Irmão do presidente do F. C. do Porto, João é protagonista da curta-metragem “Mau por um momento”, que está em competição no festival francês. A estreia mundial é já no dia 24 de maio.
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Com o bilhete na mão, João Villas-Boas partirá em breve do Porto para a Riviera Francesa, à boleia da curta-metragem “Mau por um momento”, do realizador português Daniel Soares. A obra tem estreia mundial marcada para sexta-feira, dia 24 de maio, na seleção oficial do Festival de Cannes. Será a segunda vez de João no célebre certame francês, mas a primeira em que vai como protagonista.
“Desta vez é como ir à Liga dos Campeões porque vou na qualidade de protagonista”, revela Villas-Boas ao JN, reconhecendo que “a implicação no projeto é diferente”.
João é a figura central do filme, um drama em que veste a pele do dono de um gabinete de arquitetura que se confronta “com a realidade de um bairro que a sua empresa está a gentrificar”.
“A curta, nesse sentido, põe esta personagem, como põe se calhar muitas pessoas, no papel de alguém que acha que fazendo uma boa ação remedia as más ações que fez antes ou que anda a fazer. Para mim, também era importante discutir isso: à minha volta tenho muitas pessoas que passam por grandes dificuldades em arranjar casa”, sublinha o artista.
Pronto para o grande salto
João Villas-Boas admite que cresceu “como ator” nas mãos do realizador Daniel Soares, pela oportunidade de “descobrir algumas coisas ali no meio que acabam por nascer do improviso”.
“Acho que estou numa altura muito diferente da minha vida pessoal e como ator”, reconhece. Com um longo currículo em mais de década e meia de carreira, está agora preparado para dar o grande salto.
Horas antes da entrevista, o artista recebeu a notícia de que havia ganho um apoio financeiro para se focar na criação de um guião para a próxima longa-metragem. “Portanto, há isso a acontecer. São as histórias que eu também quero contar”, acrescenta, mas salvaguarda que quer “continuar a ser ator”.
Foi no nono ano do liceu que o intérprete sentiu o apelo especial da representação. Nessa altura, “quando era para escolher áreas, já queria fazer oficinas de expressão dramática, mas no sítio onde estudava não havia e os meus pais não me deixaram mudar de escola”, recorda. Seguiu Ciências e só mais tarde, quando já estudava Psicologia em Coimbra, em 2005, é que decidiu arriscar, após participar numa peça de teatro.
Vencer o preconceito
Aos 41 anos, João diz-se “mais maduro” e consciente de que “a felicidade existe de uma procura e de um bem-estar” consigo próprio.
“Para mim, ser feliz é isso. Continuo a ter dias maus, e ainda bem que os tenho para poder purgar coisas. Continuo a chorar no colo dos meus amigos, mas sou uma pessoa feliz, sei que tenho esses apoios. E sei que quando as coisas estão mal, tenho onde cair”, confessa, aludindo à sua rede familiar.
O artista já se sentiu sozinho, sobretudo por carregar “alguma vergonha” em verbalizar a homossexualidade que há muito deixou de negar. Antes, tinha receio de “ser gozado ou ser posto de parte”, até por ter experienciado o preconceito.
“Acho que há muito juízo de valor, e muitas vezes a incapacidade de ver para além dessa etiqueta – que é minha e que eu, a uma certa altura, decidi também carregar com algum orgulho”, reconhece, notando que, felizmente, já muitos o valorizam e veem muito além disso”.
O exemplo do irmão André
O apelido não engana: João é irmão do novo presidente do F. C. do Porto, André-Villas Boas, com quem tem uma relação próxima. Mesmo gostando “muito pouco” de futebol, segue tudo o que o irmão mais velho faz.
“É com muito orgulho que vejo o meu irmão chegar onde chegou. É de facto uma inspiração ver o mano com quem cresci, com quem partilhei quarto, a realizar os sonhos todos. Ele acabou por estar sempre focado naquilo que queria, mesmo que criasse algumas rivalidades e alguma confusão pelo caminho. Por isso, às vezes há uma parte minha que pensa que ter foco é o que preciso para conseguir ir tão longe como ele”, confidencia.
Ao contrário do ex-treinador e agora presidente do F. C. do Porto, “acho que, durante muito tempo, a minha insegurança e as minhas dúvidas atrasaram-me, isso fez com que o meu caminho fosse mais demorado. Mas o foco agora é diferente”, remata João, cheio de ambições, sem fantasmas do passado.