Manifestantes pelo clima atiraram ovos misturados com tinta verde contra o ministro do Ambiente e da Ação Climática, na abertura da CNN Portugal Summit, em Lisboa, esta terça-feira de manhã. O coletivo fala em "conferência fachada" e o governante lamenta este tipo de ação, reforçando o apoio à causa ambiental.
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A entrevista a Duarte Cordeiro estava prestes a começar quando uma ativista subiu ao palco onde o governante ia falar e lhe atirou tinta verde. De acordo com a CNN Portugal, duas outras manifestantes subiram ao palco pouco depois e as três gritaram "Sem futuro não há paz" e "Este é o último inverno com gás", acusando o ministro de não ter "legitimidade social para falar sobre crise climática".
O protesto das jovens - intercetadas por agentes da PSP e pela equipa de segurança do ministro - deveu-se ao facto de a CNN Portugal Summit, que tem como tema "A nova energia é verde", ser um evento dedicado a energias sustentáveis patrocinado pela Galp e pela EDP. A conversa com o ministro foi adiada depois do incidente.
Ministro "prefere compactuar com criminosos"
O coletivo Greve Climática Estudantil reivindicou a autoria do protesto, justificando-o num comunicado enviado às redações. "Esta conferência é uma fachada para limpar a imagem das empresas que em Portugal estão a lucrar com as crises climática e de custo de vida", argumentou Matilde Ventura, porta-voz da ação, sublinhando a presença das altas chefias das duas empresas no evento.
"O ministro provou com a sua presença que prefere compactuar com os criminosos que nos estão a levar para o colapso do que garantir que nós, jovens que nascemos em crise climática, temos um futuro", adiantou, detalhando que o líquido atirado contra o ministro foi uma mistura de ovos com tinta.
A ação vem no seguimento do bloqueio do Conselho de Ministros, em que, sob o lema "Não há paz até ao último inverno de gás", estudantes prometeram não dar tréguas até que o Governo se comprometa com o fim do recurso a gás metano para produzir eletricidade. Isto para atingir "eletricidade 100% renovável e acessível até 2025 e o fim aos combustíveis fósseis até 2030".
"O ministro diz que respeita as nossas ações, mas se ele nos respeitasse cumpria aquilo que a ciência dita como necessário", notou Matilde, acrescentando que as propostas da tutela "estão todas longe do necessário".
Os estudantes ativistas vão voltar com uma onda de ações "pelo fim ao fóssil" a partir de 13 de novembro, com ocupações nas escolas e "perturbação do normal funcionamento das instituições".
Ações destas retiram "apoio social" à causa ambiental
Depois de ter sido atacado por ativistas da Greve Climática Estudantil, o ministro do Ambiente e da Ação Climática reagiu ao momento, sublinhando que “a intolerância nem faz as outras pessoas estar mais despertas para outros argumentos, nem serve para intimidar quem exerce funções públicas”, lamentando que a causa ambiental perca "apoio social" com este tipo de manifestação.
"A intolerância não é caminho para lado nenhum, devemos rejeitar a intolerância, essa é a posição de princípio que o Governo deve ter", afirmou Duarte Cordeiro, ressalvando, por outro lado, que "é preciso saber distinguir um manifestante que adota este tipo de argumento" de outros “jovens que estão preocupados com o seu futuro”.
"Consigo distinguir plenamente essa geração de outros que também estão preocupados com o seu futuro mas adotam comportamentos que devemos rejeitar”, reiterou, reforçando “um enorme respeito por toda essa geração de manifestantes".
Aplaudido pela plateia, o ministro ainda brincou com a situação: “Pelo menos acertaram na cor, verde, que é uma cor que eu aprecio.”
Esta não foi a primeira vez que manifestantes interromperam um discurso de Duarte Cordeiro: em junho do ano passado, o governante foi interpelado durante a abertura da conferência "Electric Summit" da Galp. Os ativistas do grupo Climáximo, responsável pela intervenção, foram constituídos arguidos por desobediência.