A ministra da Administração Interna ordenou um inquérito para identificar possíveis forças de segurança ligadas ao grupo neonazi 1143 e "apurar as eventuais responsabilidades disciplinares", na sequência da informação publicada na segunda-feira, pelo JN.
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Segundo confirmou ao JN o Ministério da Administração Interna, a ministra Margarida Blasco ordenou um inquérito na terça-feira, "em toda a sua extensão e profundidade, para apurar as eventuais responsabilidades disciplinares" dos elementos das forças de segurança alegadamente ligados ao grupo de extrema-direita.
Se realmente se verificar que existem polícias e militares das forças de segurança ligados ao grupo 1143, como Mário Machado admitiu, são informações que se revestem de "extrema gravidade num estado de direito democrático", acrescenta a informação oficial.
A gravidade advém desde logo pelo facto de caber às forças de segurança "a responsabilidade de garantia de direitos fundamentais em estrita observância da Constituição da República Portuguesa". A nota refere ainda que, a este processo, foram juntos todos os outros "que já se mostrassem instaurados", a "militares e polícias", anteriores a 13 de agosto.
A abertura do inquérito surgiu depois de o JN ter noticiado a presença de polícias e oficiais das Forças Armadas nas manifestações organizadas pelo 1143. A informação foi partilhada num áudio de Mário Machado, partilhado nos vários grupos de Telegram que a organização criou no último par de meses, e que o JN monitorizou.
No áudio que pode ouvir mais abaixo, Mário Machado admitiu a presença de polícias e militares das Forças Armadas entre o grupo de neonazis. A revelação foi feita numa discussão com um membro sobre se o Grupo 1143 devia atuar de cara tapada ou não. "Existem polícias nas nossas manifestações e se forem descobertos são expulsos. Depois concerteza não és tu nem ninguém que vai pagar a comida dele ou da mulher que está em casa. Existem pessoas que são oficiais das Forças Armadas, por exemplo, que também participam nas nossas manifestações e atividades que, se forem fotografados, facilmente têm processos disciplinares”.
Pode ouvir o áudio aqui:
Em apenas um par de meses, o grupo de neonazis 1143 fundou mais de 20 grupos regionais onde espalham “notícias” falsas em segundos, ameaçam imigrantes na rua e dizem-se prontos para criar um exército paramilitar.
O Bloco de Esquerda submeteu, na terça-feira, questões à Assembleia da República, dirigidas ao ministro da Defesa Nacional e à ministra da Administração Interna, sobre a atividade do grupo liderado por Mário Machado. O partido quer saber como é que o Governo vai desmantelar a organização extremista.
Na resposta, esta quarta-feira durante o dia, Margarida Blasco já tinha avisado que o Governo estava atento, mas que ia esperar pelo desenvolvimento das investigações judiciais que estão em curso.
Recorde-se que a conta de Youtube do Grupo 1143 foi suspensa, na terça-feira, pela rede social, depois de ter sido contactada pelo jornal "The New York Times", relativamente aos apelos à violência online.
Ainda lá fora, o jornal francês Libération deu eco à notícia do JN, assinalando que "o diário 'Jornal de Notícias' investigou o cerne da estratégia de expansão dos nostálgicos da ditadura salazarista, num país onde os incidentes de violência racista continuam a aumentar".
Em fevereiro deste ano, um grupo de dezenas de pessoas anti-imigração protestou no Largo do Camões em Lisboa. O porta-voz, Mário Machado, acusou os "ocupantes do Martim Moniz" de roubarem os empregos e as casas aos portugueses.
Dois meses depois, em abril, o coletivo ultranacionalista manifestou-se nas ruas do Porto, também por "Menos imigração, Mais habitação".