O secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, anunciou na quarta-feira, em Évora, que por cada ano de trabalho em Portugal, o Governo vai devolver aos estudantes as propinas pagas no ensino público, e adiantou alterações ao IRS Jovem. Medidas recebidas com críticas dos partidos à Esquerda e à Direita.
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PSD acusa Costa de ser "um seguidor que copia mal" as suas propostas
O PSD defende que as medidas apresentadas pelo primeiro-ministro para os jovens são "remendos" que vêm "a reboque" de propostas apresentadas pelos sociais-democratas, acusando António Costa de ser "não um fazedor, mas um mau seguidor que copia mal".
"Parece evidente que o Governo vem reagir a reboque do PSD: copia, mas copia mal. O que apresenta é manifestamente poucochinho e incapaz de resolver quer a asfixia fiscal, quer a asfixia sobre jovens que não veem condições para se fixarem e se emanciparem neste país", criticou o vice-presidente do PSD António Leitão Amaro.
Para o dirigente social-democrata, o primeiro-ministro "não apresentou mais do que remendos, e é incapaz de uma resposta estrutural", ao contrário do que defendeu serem as propostas do PSD.
IL fala em "esquemas" para enganar os jovens
O líder da IL considerou que as medidas apresentadas pelo primeiro-ministro para os jovens "são esquemas que visam enganar as pessoas" e que "a geração mais bem preparada de sempre" saberá identificar que está a ser vítima disso.
"Estou em crer que a geração mais bem preparada de sempre sabe identificar claramente quando está a ser vítima de um esquema que tem como único objetivo demonstrar a inexistência de soluções para um projeto de vida no país", defende.
Quer a medida das propinas, quer as alterações anunciadas ao IRS jovem, na análise do líder da IL, deixam sempre uma pergunta: "qualquer um de nós quer viver num país em que pode ser construído um projeto de vida ou quer ser alvo de um isco que tem um anzol para prender as pessoas?".
Para Rui Rocha o que é preciso "é um país que crie riqueza para todos e independentemente da idade das pessoas", enfatizando que "tudo o resto são esquemas que visam enganar as pessoas".
Chega propõe "modelo inglês" de propinas
O Chega propôs a instituição em Portugal do "modelo inglês" de propinas e acusou o primeiro-ministro de "brincar com os jovens" com o anúncio de medidas "absolutamente paliativas".
Segundo Rita Matias, o Chega defende que deveria "ser ao contrário: os jovens não terem de pagar as propinas enquanto estão a estudar no ensino superior", mas pagarem mais tarde quando trabalharem, "porque isto sim trará liquidez e trará o valor do qual necessitam nos primeiros anos enquanto estão a frequentar o ensino superior".
"Vamos propor que, então, à semelhança do modelo inglês, comecem a pagar o valor das propinas depois de alguns anos de carreira contributiva e de auferirem um valor acima da média [salarial] que é a média dos jovens atualmente, de 900 euros", disse a deputada do Chega.
Por outro lado, o Chega vai "voltar a reforçar a proposta de comparticipação do valor de entrada para uma casa", porque entende que "os jovens querem ser proprietários" e que esta medida contribuirá para "que se fixem em Portugal".
BE acusa Governo de criar medidas para pagar o menos e o mais tarde possível
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, acusou o Governo de criar medidas para pagar o "menos e o mais tarde possível", não resolvendo os problemas com que se debatem os cidadãos.
"O Governo tem esta forma de apresentar medidas que é pagar o menos possível, o mais tarde possível e normalmente o resultado é que isso não resolve problema nenhum e enreda as pessoas em apoios complicados que nunca são para hoje, que nunca são para já, que têm sempre condições de recurso", lamentou.
No seu entender, as medidas apresentadas pelo Governo fazem crer às que pessoas que "vão ter um apoio que depois nunca chegam a ter".
"Vimos isto nas rendas e estamos a ver isto nas propinas", acrescentou.
Aos jornalistas, a bloquista defendeu que, se há um problema com as propinas, "pois que a propina seja zero"."
E se é um problema de habitação, pois que se limitem as rendas e se baixem os juros da habitação. Isto são medidas claras que resolvem o problema da vida das pessoas agora", sustentou.
"Eternizar os problemas", diz o PCP
As medidas anunciadas pelo Governo são "inócuas" e só servem para "eternizar os problemas" dos jovens, segundo o PCP.
"O que o Governo está a dizer é que vai continuar a não fazer esforços para resolver o problema dos baixos salários, alargar o IRS jovem é dar um tiro ao lado no problema de fundo", afirmou Alma Rivera, esta quinta-feira, no Parlamento.
Livre critica "pseudo abolição de propinas" que só beneficiará mais ricos
O Livre criticou a "pseudo abolição de propinas" anunciada pelo primeiro-ministro, que considerou apenas beneficiar os estudantes com mais rendimentos, e disse que a medida do 'cheque livro' foi copiada de uma proposta deste partido chumbada pelo PS.
Rui Tavares incluiu neste segundo grupo o anúncio de que, a partir do próximo ano, os jovens que façam 18 anos vão receber um 'cheque-livro', garantindo que o Livre propôs nos últimos dois orçamentos a criação de um 'cheque cultura', tendo manifestado abertura para que pudesse ser canalizado apenas para livros.
"A proposta foi chumbada pelo PS e é agora apresentada pelo primeiro-ministro. Não é a primeira vez que acontece, revela uma adesão à economia circular: reutilizar o que outros já apresentaram primeiro, é ecológico e o que é bom é de facto para roubar", ironizou.
"Mais grave", considerou, são medidas anunciadas na quarta-feira que "são novas e do PS e não são boas", destacando o que chamou de "pseudo abolição de propinas".
"É na verdade o pior de dois mundos: ou nós achamos que as propinas são perniciosas e levam alguns alunos a abandonar os cursos -- e nesse caso deveríamos aboli-las -- ou consideramos que as pessoas que têm capacidade económica para as pagar devem fazer um empréstimo ao Estado que será devolvido depois, e essas são as de mais altos rendimentos", referiu. "Ou seja, os mais pobres continuam a ter de pagar propinas e muitos não aguentarão", lamentou.
O Livre, salientou, defende "há muito a abolição de propinas" e propõe um modelo de financiamento do ensino superior que contém um mecanismo "que funciona exatamente ao contrário". "As pessoas não pagam as propinas, mas aqueles que beneficiaram do ensino superior público, que terminaram os seus cursos e efetivamente estão nos escalões mais altos de rendimento, podem ter uma sobretaxa de IRS que iria para um fundo de apoio ao estudante de ensino superior", disse, considerando que muitos até pagariam este imposto de bom grado para apoio na ação social escolar, refeitórios, bolsas ou alojamento para os estudantes de menor rendimento.