O autor português de banda desenhada Luís Filipe Torras Dias Ferreira, mais conhecido como Luís Diferr faleceu ontem. Natural do Lobito, em Angola, onde nasceu a 26 de Maio de 1956, tinha completado há pouco 69 anos.
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Formou-se como arquitecto na Faculdade de Arquitectura e Urbanismo de São Paulo, mas teve sempre uma enorme vontade de trabalhar em banda desenhada. A sua primeira criação foi a série "O urso", em tiras semanais publicadas a partir do final de 1971 e durante cerca de um ano, no jornal "O Século". Depois de duas histórias no "Aleph", uma das primeiras publicações independentes portuguesas, foi para o Brasil em 1975, onde integrou a revista "Crás", da Editora Abril e foi co-editor da "Garatuja".
Regressado a Portugal, em 1984 assinou o storyboard para o filme "O Desejado", de Paulo Rocha, e teve uma curta experiência em Espanha, que não teve seguimento para lá de uma capa da revista "Metropol".
A sua primeira publicação em álbum data de 1991, com "Uma aventura de Herb Knox: O Homem de Neandertal" (edição da ASA). A personagem protagonizaria um segundo episódio, "Os deuses de Altair - I" (baleizaul, 1998), na mesma linha de policial futurista. Nesta mesma editora, escreveria para o traço de José Abrantes, uma aventura em duas partes de "Dakar, o minossauro", mais direccionada para um público infantil: "O Lago iluminado" (1997/98).
Para além de colaborações diversas em fanzines, revistas e álbuns colectivos, foi um dos integrantes do projecto "Maria Jornalista", em que diversos autores nacionais animaram as investigações de uma jornalista do "Jornal de Notícias", publicadas durante o primeiro trimestre de 1994 na revista "Notícias Magazine".
A sua publicação mais marcante seria no entanto o álbum ilustrado "Portugal" (ASA, 2010), integrado na série "Viagens de Loïs", criada por Jacques Martin, o pai de "Alix", um dos heróis mais emblemáticos da revista "Tintin". Lançado originalmente na França, esta obra acompanha cerca de dois séculos da História portuguesa, entre meados dos séculos XVI e XVIII. Luís Diferr escreveu os textos e ilustrou o álbum, sendo de salientar o cuidado posto na reconstituição de época, ao nível do vestuário, veículos e utensílios, e o ênfase dado a monumentos como a Torre dos Clérigos, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém ou o Convento de Mafra.
Nos últimos anos dedicava-se a um ambicioso projecto pessoal, a publicação em português das aventuras da romana Kallilea, de que foram lançados em França, em 2019, dois volumes, "Au nom de la déesse" e "Collateral", numa edição não comercial da Sandawe, feita através de financiamento colectivo, que revelava a génese da série e a forma de trabalhar de Diferr e servia de antevisão à obra em si.