Académicos e escritores louvam o “grande prosador” e “poderoso contador de histórias”, mas lamentam a visão redutora da sua obra e a escassa representação no ensino.
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Apaixonado, torrencial, satírico, polemista, Camilo Castelo Branco foi, na vida como nos livros (quase) tudo e o seu contrário. Só nunca deixou de ser genial, espraiando a sua ilimitada verve em mais de centena e meia de livros. Nas vésperas do bicentenário do seu nascimento, e no dia em que arranca um congresso internacional em sua homenagem, sucedem-se as iniciativas (ver página seguinte) que louvam, nas palavras do professor universitário Cândido Oliveira Martins, “um grande prosador da língua portuguesa, poderoso contador de histórias e versátil cultor de vários géneros”.
Mas, cerimoniais laudatórios à parte, serão os livros do gigante de Seide hoje suficientemente lidos, a começar pelos próprios autores? O escritor e editor Francisco José Viegas confessa ter dúvidas: “Camilo não é importante hoje - foi sempre importante. Foi no seu tempo e continua sê-lo. Se a geração dos anos 70 e 80 (a de hoje nem sem fala) tivesse lido Camilo, não teríamos agora um romance português tão depressivo, sentimental e pequeno-burguês, tão moralista. E talvez se escrevesse bem melhor”, diz Viegas.