Dos cerca de 360 autocarros da STCP que deveriam ter saído em serviço esta segunda-feira, apenas 33 estão a operar. A adesão à greve convocada pelo STRUN estará na ordem dos 85%. A STCP diz que a última proposta feita resume "todas as medidas possíveis" sem deixar sustentabilidade da empresa em causa.
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O Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN) diz estar há três anos em negociações com a administração da STCP, mas "não se vê luz ao fundo do túnel", afirma ao JN o coordenador daquele sindicato, José Manuel Silva. Por isso, reunidos esta segunda-feira em greve, os trabalhadores da operadora (cerca de 85% terão aderido à paralisação) definiram novas formas de luta já para setembro.
"Está prevista uma nova greve para o dia 16 de setembro a partir da meia-noite até às duas da manhã do dia 18. E nesse mesmo dia, inicia-se uma nova greve às primeiras cinco horas de serviço de cada trabalhador. Essa paralisação deverá prolongar-se até 17 de novembro. São 60 dias em luta", adiantou José Manuel Silva, caso não haja qualquer acordo com a empresa até lá. O pré-aviso, acrescenta, será enviado ainda esta segunda-feira.
Cerca de 85% dos trabalhadores da STCP terão aderido à greve, apesar de o STRUN representar cerca de 11% dos funcionários. Eduardo Ribeiro, dirigente daquele sindicato, justificou, também em declarações ao JN, a elevada adesão: "O descontentamento é generalizado". Tanto que, dos cerca de 360 autocarros que deveriam ter saído em serviço esta segunda-feira, apenas 33 estarão a operar, deixando, em alguns casos, os passageiros à espera durante cerca de uma hora em várias paragens da Baixa do Porto.
Em causa está o aumento salarial aplicado pela empresa, de cerca de 4,7%. O STRUN defende uma subida de 8%. Ao mesmo tempo, nota José Manuel Silva, aquele sindicato diz estar a defender os direitos dos trabalhadores, perante alterações nos anos de serviço necessários para subir de escalão salarial, bem como na forma como é feita a avaliação de desempenho de cada motorista.
Em resposta ao JN, a STCP diz que a última proposta apresentada ao STRUN "resume todas as medidas possíveis no limite da disponibilidade da empresa não colocando em causa a sustentabilidade futura da empresa". Entre elas estão "uma atualização salarial superior a 4,7%", onde estão incluídos complementos, diuturnidades e subsídio de agente único, bem como "uma revisão da organização dos tempos de trabalho, nomeadamente a inclusão de um regime de duas folgas semanais, indo ao encontro do reivindicado pelos sindicatos".
Na mesma resposta, a empresa "rejeita liminarmente" a acusação de retirada de direitos dos motoristas, apresentando esse como um fator de afastamento entre as duas entidades. Trata-se, explica a STCP, do mecanismo administrativo conhecido como auto declaração de doença. "Desde maio de 2023, esta medida está a ter um contributo nefasto para a taxa de absentismo existente na empresa. Com vista a contrariar estes maus resultados, o Conselho de Administração (CA) incluiu no documento subscrito a intenção de não pagamento por reembolso dos primeiros três dias por utilização desse mecanismo administrativo (Auto declaração de doença). O CA pretende que na primeira vez de utilização deste mecanismo esses primeiros três dias não sejam reembolsados, mantendo-se apenas o reembolso para a segunda vez que é utilizado ou por todas as vezes que o trabalhador tem baixa por incapacidade temporária (medicamente atestada)", clarifica.
Sobre a revisão das carreiras, a STCP diz que "não considera sustentável a inclusão de um ano máximo de permanência no primeiro patamar de carreira dos novos trabalhadores".
Polémica com os serviços mínimos
O coordenador daquele sindicato acusa ainda a administração de ter convocado serviços mínimos acima dos decretados.
"O que aconteceu é que temos a decorrer na STCP duas greves: uma às duas últimas horas de cada turno, que teve início a 8 de novembro de 2023, e esta agora que começou à meia-noite e vai até às duas da manhã de dia 13. Temos duas greves e dois decretos de serviços mínimos pelo Conselho Económico e Social (CES). No nosso entendimento, era a junção desses dois decretos que levava a que pudéssemos fazer uma convocatória para o cumprimento dos serviços mínimo", explicou a empresa.
"Mesmo assim, o que fizemos foi aplicar para o dia de hoje o decreto dos serviços mínimos do dia de hoje, prejudicando desta forma o serviço público essencial de transporte de passageiros prestado pela STCP na Área Metropolitana do Porto".