2024 será o primeiro ano com a temperatura do planeta a ultrapassar a barreira dos 1,5ºC
A dois meses do ano terminar, é “quase certo” que 2024 será o primeiro ano em que a temperatura média do planeta irá ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, segundo a projeção do Copérnico. Outubro deste ano foi o segundo mais quente desde que há registo
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Face às temperaturas médias globais verificadas nos primeiros dez meses deste ano, é "praticamente certo" que 2024 seja o primeiro ano civil a ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5ºC acima dos níveis pré-indústriais, período de referência de 1850-1900. O ano deverá terminar, pelo menos, 1,55 °C mais quente do que era antes da revolução industrial (1850-1900), de acordo com dados divulgados esta quinta-feira pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copérnico (C3S, na sigla em inglês).
Embora a estimativa do serviço climático europeu seja provisória - baseando-se nas temperaturas médias do ar à superfície de janeiro a outubro - apenas uma queda muito acentuada em novembro e dezembro poderia impedir que este novo recorde se verifique. O que é bastante improvável: isto porque, explica o C3S, a anomalia da temperatura para o resto do ano teria de descer "quase zero" para que 2024 não fosse o ano mais quente desde que há registo.
A projeção do C3S significa que este ano pode superar o recorde verificado em 2023, quando a temperatura média global da terra ficou 1,45ºC acima dos níveis pré-indústriais. Este ano ficou marcado por ondas de calor intensas e tempestades tropicais, que se devem principalmente às alterações climáticas provocadas pela ação humana. Os níveis de gases com efeito estufa na atmosfera têm aumentado com a queima de combustíveis fósseis.
“O clima está a aquecer, em geral. Está a aquecer em todos os continentes, em todas as bacias oceânicas. Por isso, estamos destinados a ver esses recordes serem quebrados”, afirmou à agência Reuters o diretor do C3S, Carlo Buontempo.
As altas temperaturas registadas devem-se também a fatores naturais, embora com contribuições menores, observa o C3S. É o caso do El Niño, um padrão climático natural que torna as águas superficiais no leste do Oceano Pacífico tropical mais quentes do que o normal, e, consequentemente, leva a que seja libertado calor extra na atmosfera.
Segundo outubro mais quente de sempre
Segundo o C3S, outubro deste ano foi o segundo mais quente desde que há registo, com uma média de 1,65º C acima dos níveis pré-indústrias, ultrapassado apenas por outubro de 2023. Ficou também 0,80ºC acima da média registada de outubro de 1991 a 2020.
Só a semana passada, ou seja, a última de outubro, as temperaturas médias de todos os dias estabeleceram novos recordes para a época do ano. Outubro é, assim, o décimo quinto mês, num período de 16 meses, em que a temperatura média global do ar à superfície excedeu os 1,5°C acima dos níveis pré-indústriais.
No mês passado, as temperaturas estiveram acima da média em quase toda a Europa. Fora do velho continente, ficaram “mais acima da média” no Norte do Canadá e “bem acima da média” no Centro e no Oeste dos Estados Unidos da América, no Norte do Tibete, no Japão e na Austrália.
A estimativa do serviço climático europeu surge a poucos dias de arrancar a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (conhecida como COP29), que decorrerá entre 11 e 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão. Para os especialistas, este novo recorde de temperaturas é sinal de uma necessidade urgente de agir para limitar as emissões globais e adaptar os territórios às alterações climáticas.
Note-se que em 2015 as várias nações do mundo comprometeram-se com o Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aquecimento global em 2ºC, preferencialmente mantendo-o abaixo dos 1,5ºC, até 2100, para evitar consequências catastróficas do contínuo aumento da temperatura da Terra.
O facto de 2024 ultrapassar o marco dos 1,5ºC acima dos níveis pré-indústriais não significa que esteja a quebrar a meta de Paris. No entanto, não deixa de ser motivo de preocupação. Isto porque cada ano que termina com novos recordes de temperatura torna mais difícil de alcançar as metas. O C3S crê que o mundo ultrapasse o objetivo de Paris por volta de 2030. Recorde-se que já no mês passado, as Nações Unidas alertaram que o planeta pode aquecer 3,1ºC até ao final do século com base nas políticas atuais.