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Se a cada ano houvesse 15 acidentes com aviões em Portugal, três deles com morte de todos os passageiros e os restantes resultando em ferimentos graves, seguramente o tema mereceria alarme, horas e horas de discussão, noticiários e intervenção imediata da tutela. Contas redondas, tendo como referência os dois modelos mais comuns da frota da TAP, é esse o retrato da sinistralidade rodoviária no país.
Acaba de ser divulgado o relatório de vítimas a 24 horas no ano passado (faltando ainda as mortes a 30 dias, que agravam o quadro de base) e conclui-se que a redução da sinistralidade praticamente estagnou na última década. Portugal está entre os países com piores resultados na Europa, com 61 mortes por milhão de habitantes por ano, quando a média europeia é de 45. Ainda assim, a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária está há cinco anos a aguardar aprovação.
Admito que possa ter estado desatenta e que me tenha escapado alguma intervenção nesse sentido, mas nas pesquisas de notícias dos últimos dias não encontro uma palavra dos nossos dirigentes políticos sobre este autêntico drama, nem uma palavra sobre ações imediatas. Não vislumbro uma medida ou promessa além das que constam do programa do Governo.
Luís Montenegro escolheu dar palco à agenda demagógica do Chega (cuja “responsabilidade” já elogia), abdicou de valores humanistas do partido, prefere a espuma dos dias e medidas populares e enviesadas, mais do que a visão estratégica e profunda de prioridades a médio e longo prazo. Estamos reféns da pequena política e incapazes de olhar seriamente para as políticas setoriais. São escolhas.