Um jovem indiano é baleado pela janela enquanto estava no seu próprio quarto num domingo à noite em Setúbal. O seu companheiro de casa foi ferido num ombro. Dois irmãos portugueses foram detidos e a suspeita é que se tratou de um crime de motivação racista, cujo objetivo era liquidar todos os habitantes do apartamento por serem imigrantes.
Um casal de namorados brasileiros é brutalmente espancado por um grupo de jovens portugueses no Cais de Gaia, enquanto passeava num sábado à noite. Aquilo que parecia um assalto revelou-se um ato de violência xenófoba e homofóbica, porque além de não ter havido qualquer furto, segundo as vítimas os insultos proferidos pelos agressores eram bastante indicativos das suas motivações.
Uma estudante brasileira foi agredida com socos e pontapés, em plena Universidade do Minho por um colega português, que no meio dos golpes aconselhou a vítima a voltar para o seu país, insinuando também que ela deveria estar a pagar o seu curso com recurso à prostituição.
Todos estes casos de violência foram noticiados no espaço de um mês na imprensa nacional e reforça-se o receio que sejam tratados pelas autoridades como crimes comuns, isentados da agravante da motivação racista.
Infelizmente as notícias estendem-se a outras esferas da vida quotidiana. As diversas comunidades de migrantes em Portugal afiançam que muitos proprietários se recusam a alugar casa a brasileiros, indianos e pessoas racializadas. É comum que nos contactos telefónicos o sotaque seja motivo de exclusão automática e, nomeadamente na comunidade brasileira, as queixas de discriminação das mulheres são mais frequentes, porque o preconceito estende-se a uma sua recorrente associação com a prostituição.
O espaço da escola parece ser também um campo de grandes tensões. Muitas crianças brasileiras são penalizadas pela forma como escrevem em língua portuguesa, porque a grafia e as regras de formação de frase próprias do português do Brasil são avaliadas como sendo erros de ortografia e sintaxe. Além de serem cada vez mais frequentes as queixas de bullying xenófobo.
Os cínicos diriam que os casos de racismo e xenofobia aumentam em proporção ao crescimento da imigração no país. Os otimistas, que é mais um aumento das denúncias do que dos casos. Mas tudo leva a crer que o facto de haver uma extrema-direita com assento parlamentar e muito tempo de antena mediática sirva de legitimação dos discursos xenófobos e das ações discriminatórias. E se a comunidade brasileira, pela sua dimensão e domínio da língua, consegue denunciar mais facilmente os casos de discriminação de que é alvo, no caso dos imigrantes asiáticos aquilo que chega aos média é mesmo a ínfima ponta de um grande iceberg. Ou seja, mesmo esta aparente avalancha de casos noticiados é uma sub-representação da realidade e faz lavar a boca com sabão daqueles que repetem como um mantra imbecil que “Portugal não é um país racista”.

