
Boga de boca arqueada de Lisboa,. uma espécie endémica lusitânica
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O Novo Livro Vermelho dos Peixes, divulgado esta quarta-feira, revela que dos 43 grupos de peixes de água doce e migradores nativos de Portugal, 60% encontram-se ameaçados. Um estudo mostra que os maiores riscos são as barragens, a pesca, a poluição e as alterações climáticas.
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Filomena Magalhães pertence à comissão de coordenação do Livro Vermelho e explica que a distribuição das espécies de peixes de água doce e migradores ameaçados em território nacional é “assimétrica”: no interior e no sul do país há uma maior concentração de peixes de água doce em ameaça, o que “reflete a distribuição dos endemismos lusitânicos e ibéricos, que na sua maioria são originários desta zona".
Quanto às espécies migradoras ameaçadas elas estão concentradas em maioria “no norte do país, e em zonas terminais das bacias hidrográficas de maior dimensão”, diz a investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicando que a existência de “infraestruturas hidráulicas transversais limita muito significativamente a dispersão para montante”.
O resultado desta avaliação de risco mostra que 60% das espécies avaliadas encontram-se ameaçadas, tendo sido classificados nas categorias "criticamente em perigo" (6), "em perigo" (15), e "vulnerável" (5).
Há ainda um conjunto de espécies endémicas - grupos de espécies que se desenvolvem em regiões restritas - e, segundo a análise, dos 10 endemismos lusitânicos, três encontram-se criticamente em perigo e seis em perigo; dos 17 endemismos ibéricos, 4 encontram-se em perigo e 3 foram classificados como vulneráveis; dos 11 táxones diádromos, 3 encontram-se criticamente em perigo, 2 em perigo e 2 foram classificados como vulneráveis.
Risco de extinção em breve
A coordenadora afirma ainda que o cenário é mais preocupante quando se constata que cinco outras espécies “foram considerados como quase ameaçadas, 4 dos quais são endemismos ibéricos, podendo vir a enfrentar risco de extinção na natureza num futuro próximo, e que o esturjão se encontra já regionalmente extinto no nosso país”.
Filomena Magalhães explica que esta situação “resulta de várias pressões e ameaças”. Todas as espécies nativas de Portugal “são ou podem vir a ser afetadas pela regularização dos cursos de água, captação de água, infraestruturas hidráulicas transversais, poluição de origem doméstica e agroflorestal, e também pelas alterações climáticas”. Acrescenta ainda que um número significativo de espécies de peixes enfrentam “também riscos associados à proliferação de espécies exóticas invasoras, à extração de inertes e à pesca”.
Filomena Magalhães afirma que para reverter o risco de extinção é “particularmente importante desenvolver ações de restauro e gestão dos habitats, ações de comunicação e sensibilização ambiental, promover o desenvolvimento e aplicação da legislação, implementar planos de ação, programas de conservação ex-situ e repovoamentos, proceder ao controle de espécies exóticas invasoras e melhorar a gestão da pesca e comércio”
O Livro Vermelho dos Peixes de Água Doce e Migradores estará disponível em formato digital no website do projeto e será também lançado o Sistema Nacional de Informação dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental, ou SNIPAD, uma plataforma online interativa que terá informação histórica e atual sobre todas as espécies nativas e exóticas de peixes em Portugal, incluindo uma funcionalidade de apoio à sua identificação.
O Livro Vermelho foi desenvolvido pela Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, pelo Centre for Ecology, Evolution and Environmental Change, pelo Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
