António José Seguro, um candidato sério e sóbrio
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Durante uma década, após a disputa interna que ditou a sua demissão de secretário-geral do PS, António José Seguro tomou um caminho existencial aparentado àquele a que os antigos chamavam de “fuga mundi”. Afastou-se do teatro das aparências. Saiu de cena. Evidentemente, não se tratou de tomar o caminho do ascetismo, mas de uma retirada da política mundana. Ele continuou a fazer política por outros meios. Nas suas aulas. Na sua terra natal.
Já para os antigos, a “fuga mundi” tinha um fundo paradoxal: saía-se do Mundo para nele entrar verdadeiramente. Para se reencontrar o Mundo – e reatar com o futuro.
Para além do significado ético da sua retirada, o simples facto de ele ter abdicado de alimentar o caudal político-mediático, hoje tomado pela neurose e pela sofreguidão, revela um imenso autodomínio. Há, na postura de Seguro, algo de profundamente pedagógico numa época dominada pelo repentismo e pela vociferação.
Ele pode ter sido um político “tradicional”. Deixou de sê-lo após esses anos. O político “tradicional” raramente se retira, porque se tem na conta de imprescindível – é uma forma de soberba que o torna banal.
A candidatura de Seguro à Presidência da República transporta algo da velha ética das virtudes. Destas, a que melhor condiz com ele é, para mim, a sobriedade. A palavra foi recentemente introduzida no espaço público com outro sentido, ligado ao “fim da abundância” e a uma ética do consumo. Falo, aqui, da sobriedade enquanto característica de um espírito são, pressuposto para bem ajuizar e decidir. A sobriedade é o contrário da húbris palaciana, da presunção, do destempero, defeitos que dividem, que minam a unidade da pólis. É a palavra frugal e prudente em vez da embriaguez mediática e oratória.
António José Seguro tem o perfil certo para travar a degradação institucional que teve, nos últimos anos, um duplo epicentro: o Parlamento e a própria Presidência da República. Ele será um presidente sério, sereno e sóbrio. Um presidente – e cito o seu discurso de apresentação – que “escuta antes de falar” ou que encoraja “governos de projeto em vez de governos de turno”, capaz de fazer sobressair aquilo que agrega a comunidade política portuguesa e de pôr no devido lugar aquilo que artificialmente a divide.