A velocidade de atuação da Justiça (depois do apuramento dos factos e da produção de uma decisão final) é, há anos, um dos maiores entraves à sua credibilização. O diagnóstico é conhecido, mas à boleia deste torpor vai-se instalando outra forma de lei, assente numa mediatização servida por operações policiais e judiciais multimédia sem que, aparentemente, ninguém esteja preocupado com o maltratado segredo de Justiça. Essa corrida acontece fora da pista dos tribunais e está a tornar-se mais eficiente nos métodos e mais perigosa nos propósitos. Uma Justiça que continua a ser cega e lenta, mas que, pela sua projeção mediática, ofusca tudo, marcando, com o ferro fundido da culpa, os potenciais suspeitos da trama.
Rui Rio tem razão quando se queixa da desproporcionalidade de meios usada na mais recente investida policial que levou, às sete de manhã, uma dezena de inspetores a sua casa, bem como à apreensão do seu telemóvel pessoal, num processo relacionado com suspeitas de pagamentos ilícitos a assessores que já estava em investigação desde 2018 e no âmbito do qual já tinham sido inquiridas várias testemunhas. E se atentarmos no que disse o presidente da República sobre a dificuldade legal em distinguir o que são pagamentos a assessores parlamentares e a assessores políticos (fronteira ténue, de resto, pisada há anos pela globalidade dos partidos), tudo se torna ainda mais frágil.
Ora, isto não quer dizer que se deva esvaziar o poder da vigilância e da investigação quando em causa estão suspeitas de má utilização de dinheiros públicos. Mas o bom senso, o rigor e o recato abonam em favor de todos os casos. Era frutuoso que os comunicados da PJ e da PGR fossem gerados à mesma velocidade dos diretos televisivos, e que houvesse uma maior transparência na comunicação das operações e dos seus fundamentos. Saíam todos a ganhar: os investigadores, os investigados e, sobretudo, os portugueses, que ficam na ingrata, mas compreensível, posição de achar que, perante tantos escândalos, o melhor mesmo é meter toda a gente na cadeia.

