Há muitos organismos da administração pública que enfrentam dificuldades de funcionamento por escassez de recursos humanos, de quadros técnicos especializados em determinadas áreas e, sobretudo, de quadros superiores e dirigentes. A imposição de restrições no recrutamento e nas condições de atualização dos níveis de qualificação conduziram a uma generalizada degradação da qualidade das organizações e dos serviços. E isto apesar de saírem das instituições de Ensino Superior mais de 80 mil diplomados por ano.
A administração pública já não é, em muitos casos, um lugar de realização profissional atrativo para os jovens. Há uma generalizada desvalorização dos serviços públicos, ao mesmo tempo que aumentou, e bem, o escrutínio, a exigência de respostas rápidas e competentes, a exigências de serviços de qualidade.
Neste contexto, o papel das lideranças, de direção intermédia e superior dos organismos da administração pública, é muito difícil e ingrato. Difícil porque os dirigentes necessitam, como em qualquer outra organização, de mobilizar quadros e funcionários para o cumprimento da missão de cada organismo, mas não dispõem de meios para proporcionar estímulos adequados e recompensas merecidas. Ingrato, porque eles próprios correm o risco de ver as suas iniciativas ou decisões técnicas sujeitas a processos levantados por organismos de controlo e fiscalização, frequentemente por razões formalistas que ninguém compreende.
Os tempos são, portanto, difíceis para a administração pública e para os seus dirigentes.
Há muitas coisas que se podem e devem fazer para valorizar e reforçar as nossas instituições públicas. Por um lado, a criação de perspetivas de carreira com mecanismos de estímulo que proporcionem perspetivas de futuro. Por outro, a definição de critérios exigentes de qualidade dos serviços e de rapidez dos atendimentos e das respostas. E, necessariamente, a valorização da atratividade dos lugares de direção intermédia e superior, que permita dotar a administração não só de recursos humanos altamente qualificados, na inevitável concorrência com os privados, como de lideranças sem receio de liderar.
O que não se deve fazer é, nos processos de substituição dos dirigentes, achincalhar e denegrir a reputação daqueles que cessam funções. É uma má prática que, para além dos danos que causa aos visados, não qualifica a administração pública, tem efeitos negativos na reputação dos organismos, na mobilização dos funcionários e no recrutamento dos melhores para o exercício de funções públicas de liderança.

