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Posso dizer que o evento que aconteceu ontem no Estádio da Luz não me diz muito. Para muitos de nós, ser de um clube não tem uma explicação muito esotérica. O avô já era do clube, o lugar de nascimento tem um clube da terra, o irmão sempre foi do clube do rival. Ou, como no meu caso, sou do Sporting porque a mãe era cozinheira do antigo estádio José Alvalade e durante anos achei que o cartão que ela tinha na carteira significava que a minha mãe era uma adepta fervorosa, quando na verdade, era o cartão para picar o ponto antes de meter qualquer coisa no tacho a ferver.
Como o meu pai é do Benfica, tive pena de não me interessar mais pela vida desportiva do Sporting, mas o futebol sempre me aborreceu profundamente. Tem de se decorar imensos nomes de jogadores, cruzamentos e bolas ao poste em finais de 1988, cores de equipamento que, em certos jogos, mudam de tal forma que me faz fazer figuras tristes quando tento perceber o que está a acontecer na televisão. No liceu, admito que tentei desfrutar porque tinha amigos que pertenciam a uma claque, mas de repente foram para a extrema-direita, o que foi mais um impedimento para me conseguir interessar pelo desporto. Acho que o facto do Sporting não ter ganhado nada durante muito tempo também não ajudou. Foi muito difícil automotivar-me durante esse tempo. Mas não é por isso que fico de fora de finais de campeonato emocionantes. Independentemente de quem ganha, morar em pleno Marquês de Pombal faz-me sentir parte de todas as celebrações, mesmo que não vá até à rotunda pendurar-me numa estátua e dar demasiado dinheiro por uma lata de cerveja quente.
Mas serve esta introdução para dizer que também eu irei viver alegrias no Estádio da Luz, mais propriamente o concerto do cantor porto-riquenho Bad Bunny. Acabei de adquirir bilhetes para daqui a um ano. Ainda o meu terapeuta diz que tenho medo do compromisso. Em dois dias esgotou dois estádios. A loucura começou quando colocaram duas cadeiras de plástico à porta do estádio da luz. Quem conhece o cantor ficou logo com coelhinho aos saltos e quem não conhece pensou que ainda iam trazer um avançado e um grelhador. Foram muitas as pessoas que partilharam o seu processo de compra dos bilhetes e houve quem relatasse 12 horas de espera. 12 horas. Nós estamos habituados ao dobro disso para sermos atendidos com a rótula para fora numa sala de espera do Serviço Nacional de Saúde, meus senhores. Não brinquem com o povo português.