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Voltou a falar-se da questão do desaproveitamento do Rio Douro enquanto recurso para deslocação de milhares de possíveis utilizadores. Fala-se de ciclovias, metrobus, mobilidade, ruas e avenidas pedonais, circulação para cima e para baixo, estacionamento, fluidez e por aí fora, mas da esplendorosa via natural que o rio e oferece, nicles. É água e serve para os turistas se deliciarem.
Para mim, é incompreensível que a ligação entre a Afurada e o Ouro não continue a ser feita pelas lanchas de sempre. Nem entendo como os utentes estrangeiros, que utilizam a marina, se deslocam para o Porto. Isto é não aprender com o passado.
Nos tempos da Outra Senhora, havia carreiras de embarcações, com a comodidade possível na época, que, saindo da Ribeira, serviam Avintes, Crestuma e Arnelas. E, pontualmente, às oito da manhã, era vê-las atracar, trazendo centenas de pessoas que trabalhavam no Burgo. Uma das lanchas chamava-se “Espinhaço”, para o povo era “A Badalhoca”, talvez pelo fumo do motor. Certo dia de nevoeiro, embateu num pontão acima do Areinho e afundou-se, morrendo alguns passageiros. A partir daí, as carreiras acabaram. Até hoje. Quando dispomos de tecnologia nunca vista em transportes fluviais, pergunto aos peritos dos tráfegos se, em lugar de entupirem e carbonizarem as en-tradas da cidade, não poderiam os milhares de gaienses e gondomarenses que para aqui se deslocam diariamente, utilizar transportes fluviais rápidos, cómodos e, se ca-lhar, mais baratos. E até entre as Ribeiras precisamos de inovação e competência para construir a qualidade de vida na modernidade.
* Professor e escritor