Após diversas datas esgotadas na Europa e nos EUA, Maraña – Um Espetáculo de Vida by Organismo estreia em Lisboa.
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A companhia sediada em Berlim instala-se nas Carpintarias de São Lázaro, com seis apresentações, entre quinta-feira e 18 de maio. Guiada pela encenadora chilena Paula Riquelme, a trupe leva o público numa viagem por um universo onírico, caleidoscópico, onde a arte e o movimento se unem, criando uma fusão entre circo contemporâneo, dança, marionetas, teatro físico e música ao vivo. “Uma narrativa de sensações”, resume Riquelme ao JN. Há também lã e tecido, muito tecido, inteiramente tricotado pela diretora chilena; tecido que enlaça e envolve o público num plano sensorial, tanto orgânico quanto tátil.
“É um espetáculo que as pessoas sentem, mas não sabem bem como, onde. Não sabem se ficam nostálgicas, sensíveis, felizes. Mas sentem”, avança a encenadora.
Na prática, durante os dias de Maraña há duas performances diárias, onde intérpretes, palco e cenário se fundem num organismo, enredado num novelo de croché, numa experiência que se pretende hipnótica.
O cenário artesanal é cuidadosamente tecido pela diretora chilena, que cria teias de texturas e movimentos que se transformam em tapeçarias, que depois se fundem com as cinco performers numa coreografia musicada.
O espetáculo, criado e pensado por mulheres, desde a diretora artística (Riquelme), à co-fundadora da Haize e produtora, Madja, conta ainda com cinco mulheres em palco e duas DJ a animar uma festa no penúltimo dia: Kotoe e Anya.
Morar em Portugal, “quem sabe?”
“Somos todas mulheres e somos de diferentes países, até continentes. Temos o estúdio em Berlim, onde ensaiamos, criamos, porque o espetáculo está sempre a mudar; e onde temos espaço para público, para irmos testando as performances”, explica a diretora artística ao JN.
Riquelme adiante ainda que trupe se chama Organismo, porque “se pode sentir que se está dentro de algo, é algo maior. Quando se vê o espetáculo, percebe-se que ele não pode acontecer se uma das pessoas não está, porque tudo está ligado: uma performer na direita, que agarra a mão direita, a outra agarra a esquerda, a outra pega nos pés, a outra…, sabe?” É um puzzle perfeito? “É um puzzle perfeito, completamente”, anui a encenadora.
Um “oceano de movimento e música ao vivo a fluir em conjunto para animar eletronicamente e percussivamente este organismo, onde a precisão física e a confiança cega entrelaçam as cinco artistas”, lê-se na resenha. Para Paula, há essa reflexão, que sai do espetáculo, e que passa para o público.
“A ideia de que juntos somos mais fortes, essa sensação, que levam muitas pessoas, no final do espetáculo, de só quererem ser parte de algo. Ser parte de uma equipa, sabe? Não importa se estou a fazer exatamente o que quero, mas quero ser parte de algo. E na arte, é difícil, porque, normalmente é algo mais individual. Mas há muito essa ideia, de que juntos podemos ser melhores”, explica.
Apaixonada por Portugal, a encenadora chilena diz que já lhe passou pela cabeça constituir cá a sua base. “Eu tenho uma energia circense, nómada, estou bem em Berlim, mas não preciso de estar mal num sitio para querer mudar, mexer-me, de quando em quando”, refere.
Do nosso país, sentiu “que é um sitio relaxante, acolhedor, que tem arte, e algumas sensações e energia da América do Sul. Para mim, há uma mistura perfeita de Europa com a cultura brasileira ou sulamericana, sinto-me mais próxima do Chile. Por isso quem sabe!”
A versão lisboeta do espetáculo tem uma página própria, onde se pode consultar o programa completo das residência e apresentações em Lisboa, bem como horários e bilhetes.