O maquinista do comboio que descarrilou, na quarta-feira à noite, em Santiago de Compostela, está detido desde quinta-feira ao final do dia. Francisco José Garzón Amo pode ser acusado de negligência.O descarrilamento causou 78 mortos, um número revisto em baixa pela autoridades durante os exames de identificação das vítimas.
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O maquinista do comboio que descarrilou, causando a morte a 78 pessoas e ferimentos em cerca de 150, deve ser ouvido pelas autoridades ainda durante esta sexta-feira.
Segundo a imprensa espanhola, Francisco José Garzón Amo deve ser acusado de "imprudência", o que em português se pode traduzir como comportamento negligente.
"Ele está detido desde ontem (quinta-feira) às 20 horas (19 em Lisboa)", declarou, esta sexta-feira, o chefe da polícia da Galiza, Jaime Iglesias, evitando especificar que tipo de acusação pode ser deduzida."É suspeito de crimes ligados ao acidente", acrescentou.
O próprio maquinista reconheceu que ia a 190 quilómetros por hora numa zona limitada a 80, tanto nas comunicações por rádio que manteve após o acidente, como numa conversa com o delegado do governo espanhol na Galiza.
"Descarrilei, o que vou fazer agora, o que vou fazer", foram as palavras do maquinista Francisco José Garzón, numa conversa telefónica logo após a tragédia.
Hoje, o jornal El País escreve que o comboio "travou tarde demais" e acrescenta que o condutor recebeu o alerta de que circulava em excesso de velocidade e ainda tentou travar.
Segundo o jornal, a investigação ao acidente "gira sobre um local e uma hora: as 20.41 de quarta-feira e a curva no bairro de Angrois, a quatro quilómetros da estação de Santiago".
Nesse momento, adianta, os sistemas de alerta da via-férrea alertaram o maquinista, Francisco José Garzón Amo, de que circulava a 190 quilómetros por hora, quando não devia ultrapassar os 80.
Segundo o condutor, o alarme ativou-se no painel de navegação e Garzón tentou travar, mas não conseguiu evitar a tragédia.
Nesse momento, o comboio abandonava as vias reformadas em finais de 2011 para receber os comboios de alta velocidade e entrava num troço de traçado antigo.
Logo após descarrilar, o condutor ligou para o serviço de emergência e disse: "Tinha de ir a 80 e vou a 190".
Na gravação, já entregue ao juiz que está encarregado do caso, a frase surge no presente, embora o acidente já tivesse ocorrido, nota o El País.
O condutor refere-se ainda aos "pobres passageiros" e diz: "oxalá não haja mortos".
A empresa construtora do comboio acidentado, Talgo, que tem controlos internos de velocidade nos seus aparelhos, confirmou na quinta-feira às autoridades que o comboio ia a uma "velocidade extrema".
O presidente da operadora ferroviária Renfe, Julio Gómez-Pomar Rodríguez, confirmou que a linha ferroviária onde ocorreu o acidente tem um sistema de segurança e assegurou que ainda na quarta-feira de manhã o comboio acidentado tinha sido sujeito a uma revisão.
O secretário-geral do sindicato de maquinistas (Semaf), Juan Jesús García Fraile, considerou que o acidente tem de dever-se a "um conjunto de circunstâncias".
O maquinista que conduzia o comboio, de 52 anos, estava há 30 na transportadora Renfe e desde 2003 era maquinista, estando no centro de trabalho da Corunha há três anos e a operar naquela linha há mais de um ano
O acidente ocorreu às 20.45 locais (19.45 em Lisboa) quando um comboio de alta velocidade com que fazia a ligação entre Madrid e Ferrol descarrilou a três quilómetros de Santiago de Compostela, fazendo 78 mortos e 178 feridos.
O número de mortos foi revisto, esta sexta-feira, de 80 para 78 na sequência da análise forense aos corpos, de acordo com a Polícia Científica espanhola.