O PS considerou, esta terça-feira, que o primeiro-ministro deixou o Governo "ligado à máquina" ao recusar fazer uma remodelação alargada e ressalvou que não está em causa o perfil de Anabela Rodrigues para ministra da Administração Interna.
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Esta posição foi transmitida aos jornalistas pela vice-presidente da bancada socialista Ana Catarina Mendes, após o Presidente da República, Cavaco Silva, ter anunciado que aceitou a nomeação da professora universitária Anabela Rodrigues para o cargo de ministro da Administração Interna, em substituição de Miguel Macedo, que se demitiu no domingo.
"Em vez de fazer uma remodelação mais alargada, o primeiro-ministro decidiu substituir um só ministro, mantendo assim o seu Governo ligado à máquina. Logo após a demissão de Miguel Macedo da pasta da Administração Interna, dissemos que outros ministros poderiam ter tido a mesma lucidez, abandonando o Governo", declarou Ana Catarina Mendes, também líder da federação do PS/Setúbal.
Em relação à nova titular da pasta da Administração Interna, Ana Catarina Mendes referiu que o PS a conhece "bem" e deseja-lhe "os maiores sucessos para os meses que restam deste Governo".
PCP diz que substituição de ministro é insuficiente
"A nomeação de um novo responsável para a tutela da Administração Interna não é medida suficiente para retirar as consequências políticas desta situação", considerou o líder parlamentar do PCP.
João Oliveira considerou que a nomeação de Anabela Rodrigues "fica aquém do que seria necessário", ou seja, a "convocação de eleições antecipadas".
"Só a demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas pode apontar verdadeiramente para uma perspetiva de solução para a situação de degradação da situação política, do regime democrático e das próprias instituições políticas", sustentou o deputado, que não se pronunciou sobre o perfil da próxima titular da pasta da Administração Interna.
BE quer remodelação mais alargada
"Queremos sublinhar que tem um curriculum notável e que surge num contexto muitíssimo conturbado e de descrédito do próprio Governo" afirmou a deputada Cecília Honório aos jornalistas no Parlamento, frisando também o facto de Anabela Rodrigues ser "uma mulher num Governo que tem tão poucas".
O BE desejava porém uma "uma remodelação mais alargada de um Governo que neste momento está a desfazer-se e tem a sua credibilidade em causa", salientando que a nova ministra terá em mãos dossiês "de uma enorme complexidade".
PSD elogia escolha
"Este Governo continua a fazer aquilo que tem de ser feito para resolver os problemas que herdámos do PS. Eu diria até que o que estava ligado à máquina, infelizmente, era Portugal quando o PS abandonou a governação em 2011. Por isso, eu instava o PS a ter uma atitude construtiva", declarou o deputado e vice-presidente do PSD José Matos Correia aos jornalistas, na Assembleia da República.
Em nome dos sociais-democratas, Matos Correia considerou que Anabela Rodrigues "reúne todas as condições" para exercer o cargo de ministra da Administração Interna e assinalou "o facto de se tratar da primeira vez em Portugal que uma mulher é nomeada para uma pasta desta relevância".
Apontando-a como "uma das mais reputadas penalistas portuguesas", concluiu: "Reúne todas as condições para exercer este cargo".
CDS PP reconhece currículo sólido
O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, afirmou que, "para o CDS, a política de segurança é uma política muito importante", considerando que Anabela Rodrigues é "uma personalidade credível, com um curriculum sólido, e uma vida académica que fala por si, que já desempenhou funções públicas de relevo e com relevo".
"Consideramos que a política de segurança irá ter desafios importantes nos próximos tempos e cá estaremos para, construtiva e ativamente, contribuir para que o país continue a ter uma boa política de segurança", declarou.
Profissionais da GNR surpreendidos
O presidente da Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) disse que vê a nomeação de Anabela Rodrigues "com surpresa", já que se trata de uma técnica e de uma pessoa que não tem peso político.
"Esperemos que não seja só a mudança da pessoa em si na tutela, mas que haja também mudança e que apesar de não ter peso político possa alterar as políticas que se têm mantido até agora", disse o presidente da APG/GNR.
César Nogueira disse esperar que muito seja resolvido com a nova ministra, já que "pouco" foi resolvido com o anterior ministro, destacando, desde logo, a alteração à lei orgânica.
"Muito trabalho e pouco tempo"
O presidente do Sindicato Nacional de Polícia (Sinapol), Armando Ferreira, disse hoje que a nova ministra da Administração Interna terá muito trabalho para fazer em pouco tempo, esperando que a pressa não prejudique as negociações com os sindicatos.
"A nova ministra vai encontrar um Ministério da Administração Interna com muita legislação para criar: tem a lei orgânica da GNR para acabar, tem a lei orgânica da PSP e depois, ainda com mais responsabilidade, tem o estatuto socioprofissional da PSP para iniciar negociações. Irá ter muito trabalho e pouco tempo para o fazer e as coisas apressadas nem sempre são as melhores", disse Armando Ferreira.
Fundamental alterar Estatuto da PSP
"É fundamental que a nova ministra altere a Lei Orgânica e inicie de imediato o processo de negociação para a alteração do Estatuto Profissional da PSP, que já está em projeto, uma vez que só desta forma poderão ser concretizadas as exceções previstas na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas e, assim, resolver uma série de problemas socioprofissionais existentes na PSP", adianta Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP).
Os responsáveis da ASPP consideram que "mais do que a pessoa escolhida" o que está em causa "são as políticas que seguirá[...] num momento crucial para a definição do que será a Polícia de Segurança Pública nos próximos anos".
No texto, a ASPP/PSP exige ainda à nova ministra que "solucione rapidamente" o problema do reposicionamento de cerca de 3.000 profissionais "nas posições remuneratórias devidas" e apela para que "não permita a redução de cerca de 100 milhões de euros na polícia".
