Justiça

Vara em tribunal para dizer que filha nada sabia sobre origem do dinheiro

Armando Vara à chegada ao tribunal MIGUEL A. LOPES/LUSA

Armando Vara, ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos, chegou às 13.42 horas desta terça-feira ao Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, para confirmar, no âmbito da instrução da Operação Marquês, que a filha nada sabia sobre a proveniência ilícita do dinheiro depositado numa conta, na Suíça, de uma sociedade offshore, da qual era beneficiária.

Bárbara Vara está acusada de dois crimes de branqueamento de capitais.

O ex-gestor do banco público, também arguido no processo, deveria ter prestado declarações, enquanto testemunha abonatória da filha, a 29 de janeiro, mas o depoimento acabou por ser adiado uma semana, devido à greve dos guardas prisionais. Armando Vara, atualmente a cumprir pena de prisão em Évora no âmbito do processo Face Oculta, chegou ao Tribunal Central de Instrução Crimina​​​​​​l (​TCIC) numa carrinha celular, algemado, cerca de 20 minutos antes da hora marcada para o início da terceira sessão da instrução da Operação Marquês.

Esta fase - facultativa e requerida pelos arguidos - destina-se a apurar se existem indícios suficientemente fortes para o processo seguir para julgamento. Em causa estão 188 crimes de corrupção, branqueamento de capitais, fraude fiscal, falsificação de documento e posse de arma proibida distribuídos por 28 pessoas individuais e coletivas, entre as quais o antigo primeiro-ministro José Sócrates.

No arranque da instrução, a 28 de janeiro, Bárbara Vara garantiu ao juiz Ivo Rosa que, apesar de ser beneficiária da conta onde Armando Vara terá recebido, segundo a acusação, um milhão de euros em luvas por alegadamente ter favorecido o empreendimento Vale do Lobo (Algarve) num empréstimo ruinoso para a CGD, se limitou a confiar do pai, desconhecendo a origem do dinheiro. O montante, defende o Ministério Público, terá sido depois "branqueado" com a compra de um apartamento em Lisboa. A expectativa é de que, esta terça-feira, Armando Vara negue, à semelhança do que já fez em ocasiões anteriores, o conhecimento por parte da filha de qualquer ato ilícito.

O antigo administrador do banco público é a quarta e última testemunha arrolada pela defesa de Bárbara Vara a prestar depoimento. A 30 de janeiro, testemunharam Maria Isabel Figueira, mãe da gestora de imagem, João Carlos Silva, ligado à sociedade que participou no negócio da compra do apartamento em Lisboa, e dois amigos da família Vara, conhecedores da relação entre pai e filha.

Depois desta terça-feira, a instrução da Operação Marquês deverá ser retomada na última semana de fevereiro, com o interrogatório, no dia 25, de Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates, também arguida no processo. Para já, não está agendada qualquer inquirição de Armando Vara na condição de arguido. À entrada, o seu advogado, Tiago Rodrigues Bastos, escusou-se a esclarecer se irá aproveitar a sessão desta terça-feira para o fazer.