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Milhares de doentes de AVC sem acesso a terapias

Medir a tensão arterial, ter alimentação pobre em gorduras e sal e praticar exercício físico são essenciais à prevenção André Rolo / Global Imagens

Em causa a suspensão de tratamentos devido à Covid-19. Médicos apelam a que não se desvalorizem os sinais de risco e que se ligue sempre ao 112.

Milhares de sobreviventes de acidente vascular cerebral (AVC) estão sem fazer qualquer tipo de terapia de reabilitação devido à pandemia. "Para evitar a propagação da Covid-19, os hospitais e as clínicas suspenderam todas as terapias que estavam a ajudar as pessoas que sofreram um AVC a recuperar faculdades, como andar e falar, e todos os tratamentos que, nos doentes crónicos, lhes permitiam ter uma maior qualidade de vida", disse ao JN António Conceição, responsável pela organização PT-AVC, uma entidade que junta "sobreviventes" da doença.

Celebra-se esta terça-feira o Dia Nacional do Doente com AVC, sem cerimónias públicas, mas com a intenção de sensibilizar a população para mudar hábitos de vida e recorrer ao hospital sempre que sentir alguns dos sintomas que caracterizam a doença.

"Continua a ser muito pior ter um AVC do que estar infetado com Covid-19, porque uma infeção é algo urgente, mas um AVC é emergente, é algo que não pode mesmo esperar", salientou Vítor Tedim Cruz, neurologista no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.

"Ser vítima ou ser sobrevivente de um AVC, por si só, não coloca o doente em maior risco de ter Covid-19, nem há estudos que permitam dizer que os doentes com Covid-19 estejam em risco de vir a ter um AVC", esclarece Miguel Rodrigues, neurologista e membro da Sociedade Portuguesa AVC.

Muitos são grupo de risco

"Mas muitas pessoas que sofreram um AVC pertencem a um grupo de risco por serem idosos, estarem mais fragilizados ou terem uma doença crónica, como diabetes, hipertensão arterial, doença cardíaca, doença respiratória ou doença renal crónica", frisa. Para os médicos, a mensagem que importa passar aos doentes é de que os hospitais continuam preparados para receber doentes com acidentes vasculares cerebrais e que, apesar das contingências, existem clínicos especializados para tratar os pacientes.

"O AVC é uma emergência médica, sendo atualmente a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. A cada hora, três portugueses sofrem um AVC, um deles não sobrevive, e metade dos sobreviventes ficarão com sequelas incapacitantes", afirmou Luísa Fonseca, coordenadora da Unidade AVC do Centro Hospitalar Universitário S. João e coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa Medicina Interna.

"As pessoas não podem ter medo de ir ao hospital nem devem ficar em casa à espera que os sintomas passem. Devem ligar para o 112 e serão logo encaminhadas para o hospital de referência na sua área de residência", finalizou Vítor Tedim Cruz.

Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa AVC, defende que "a reabilitação não é uma esmola, mas sim um direito. É necessário lutar para garantir aos sobreviventes de AVC esta intervenção até à recuperação das capacidades perdidas devido ao episódio vascular cerebral - durante uma vida inteira, se for preciso", afirmou.

Prevenir

O AVC pode ser evitado em cerca de 80% dos casos. Atenção ao controlo da pressão arterial, diabetes, alimentação adequada, pobre em gorduras e sal, à prática de exercício físico regular, a não fumar nem consumir bebidas alcoólicas.

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Os sintomas: Força, a falta de força num braço ou numa perna; Face, desvio ou assimetria de um dos lados; e Fala, alterações na capacidade de comunicar.

Reabilitação

Assume um papel preponderante na recuperação funcional, cognitiva e psicossocial, bem como na integração social, melhoria da qualidade de vida e manutenção de atividade e grau de independência.

Emília Monteiro