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Fiéis recorrem ao velho rádio para continuar a assistir às missas

Muitos sacerdotes têm recorrido às redes sociais para se manterem ligados aos paroquianos, transmitindo em direto as eucaristias à porta fechada (André Gouveia / Global Imagens ) André Gouveia / Global Imagens

A suspensão das missas, decretada há três semanas pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para combater a disseminação da Covid-19, deixou grande parte dos fiéis dependentes dos meios de comunicação digitais e audiovisuais para preencherem o vazio espiritual sem saírem de casa, como tem sido amplamente recomendado.

Muitos sacerdotes têm recorrido às redes sociais para se manterem ligados aos paroquianos, transmitindo em direto as eucaristias à porta fechada. Mas para a população mais idosa, grande parte sem acesso às novas tecnologias, a rádio tem sido a solução para acompanhar as celebrações religiosas à distância. Não é a mesma coisa, mas ajuda a alimentar a fé.

"Agora ouço muito mais a rádio. Durante a semana, acompanho o terço na Rádio Renascença e ao domingo costumo assistir à missa pela televisão, mas fora isso, pouco vejo televisão. Não gosto de telenovelas, muito menos de política e, além disso, agora estão sempre a falar no mesmo", confessou ao JN Emília Castanheira, 80 anos, residente em São Romão, nos arredores da cidade de Leiria.

Mais programação

Após a medida suspensiva da celebração comunitária da eucaristia, uma decisão que não foi totalmente consensual no seio da Igreja Católica, várias rádios nacionais e locais reforçaram a sua programação e a transmissão de mais celebrações religiosas.

A Rádio Renascença, por exemplo, além do terço, passou a transmitir uma missa diariamente, durante toda a semana, a partir das 12 horas.

A Rádio Canção Nova transmite algumas das celebrações no santuário de Fátima e a Antena 1 mantém a transmissão da missa aos domingos, a partir das oito horas.

"É muito diferente da missa vivida em assembleia, mas é a forma de nos manter ligados à nossa fé e de nos ajudar a ultrapassar a triste situação que estamos a viver", admitiu Vitalina Muliano, de 79 anos, residente em Ribeira de Cima, no concelho de Porto de Mós, sem esconder o vazio e a tristeza que sente por se ver privada das eucaristias que frequentava com assiduidade na sua paróquia ou na igreja na sede do concelho.

A mesma fé

Face à proximidade do período pascal, um dos mais importantes no calendário litúrgico da Igreja Católica, e tendo em conta que o Vaticano já deu indicações para que as celebrações sejam todas realizadas sem a presença de fiéis, as crentes contactadas pelo JN aceitam este facto inédito na história das suas vidas, encarando-o com resignação : "Mesmo sem ir à igreja, a fé continua a mesma", assegurou Emília Castanheira.

Link no Patriarcado

O Patriarcado de Lisboa publicou a lista de celebrações religiosas transmitidas online ou pela televisão. Está disponível no site e em permanente atualização. Inclui informações sobre os horários e os links para cada uma das missas que serão transmitidas pela televisão, pela rádio ou online.

Primeira experiência

O pároco na ilha Terceira, nos Açores, Júlio Rocha transmitiu pela primeira vez uma missa no Facebook e chegou a ter mais de 600 visualizações, repartidas entre quem estava na ilha, mas também nas comunidades emigrantes. "Houve pessoas que se levantaram às 4.30 horas na Califórnia para poderem ouvir a missa", contou.

Igreja com fotos

O padre de Gonçalo, na Guarda, celebrou no fim de semana uma missa com a igreja vazia mas, para não se sentir sozinho, colocou nos bancos da igreja fotos dos paroquianos. "Foi a forma de sentir o conforto dos que nos são mais próximos", disse.

Francisco Pedro