Economia

Na fronteira com Espanha, não há desconto que faça os clientes parar

José Luís Silva gere há cerca de 18 anos um posto na entrada sul da cidade de Valença Rui Manuel Fonseca/Global Imagens

José Luís não recebeu informação no posto e sabe pouco sobre o programa IVAucher. Defende que a solução era baixar os impostos.

José Luís Silva, 66 anos, caminha de mãos nos bolsos e a passo lento pelo posto de combustível (da Galp), que gere há cerca de 18 anos junto à Estrada Nacional 13, na entrada sul da cidade de Valença. Por ali também anda a velha cadela Noa, a arrastar-se cambaleante. A quietude do posto contrasta com o trânsito constante na estrada. Algumas viaturas param na padaria ao lado. Outras utilizam o espaço como uma espécie de "rotunda" para voltar para trás no seu percurso. Em hora e meia que o JN esteve no posto, duas pessoas pararam para abastecer.

"Aqui não temos como combater a Espanha. Estamos sempre a 20 e a 30 cêntimos de diferença de um lado para o outro. O gasóleo hoje [terça-feira] estava lá a 1,34 euros e aqui a 1,59. Não há hipótese", desabafa José Luís, comentando que "não há IVAucher que faça os portugueses parar" na bomba de Valença. E até revela desconhecimento sobre como funciona o desconto.

"Os clientes falam, mas ninguém sabe como é. Eu também não sei se é para toda a gente, se é só para os mais pobres. Há pouca informação. Isso devia ser mais divulgado, até mesmo na televisão. Ainda ninguém mandou nada para aqui a dizer nada", comenta, acrescentando: "Mesmo que venha o desconto, não adianta".

A chegada de um cliente interrompe a conversa. Manuel Domingues reside em Valença e trabalha em Espanha, como soldador mecânico. Abastece 20 euros de gasóleo. "É muito raro vir aqui abastecer e olhe que tenho três carros. Vim porque estou de baixa, aleijado, e amanhã tenho de ir a Espanha fazer fisioterapia. Chegando lá já encho o depósito", afirma, comentando que o IVAucher "não lhe interessa". "Acho esta medida, juntamente com muitas outras que o Governo toma, uma estupidez. Mais vale baixar o combustível e ao menos não íamos abastecer ao lado de lá", diz.

Vagaroso, José Luís mostra o recibo de 20 euros de gasóleo e faz contas: "Daqui paga-se de IVA 3,74 euros e 6,11 euros de ISP, dá quase dez euros. O problema é este: o dinheiro que vai para o Governo". Confessa que o seu posto "sobrevive dos "frotistas" (clientes com cartão frota) e dos "fiados" (pessoas que ficam a dever e pagam quinzenalmente ou no fim do mês). E para mostrar o impacto da diferença de preços entre Portugal e Espanha, acrescenta: "Quando a fronteira esteve fechada (no confinamento) trabalhou-se muito. Faturávamos à volta de 10 mil euros por dia. Agora fazemos mil euros. E ao fim de semana é uma miséria, 700, 700 e tal".

Ana Peixoto Fernandes