Nacional

João Costa quer avanço dos manuais digitais mas com cautela

O Governo que que todas as escolas tenham manuais digitais até ao final da legislatura André Rolo / Global Imagens

O ministro da Educação, João Costa, pediu esta sexta-feira cautela na adoção de um modelo totalmente digital dos manuais escolares, acrescentando não existirem dados suficientes sobre o seu impacto na aprendizagem. Defende que a digitalização se inicie pelo Secundário, não "acreditando" na sua implementação nos primeiros anos escolares. Os livreiros defendem a adoção de um modelo híbrido, em que os manuais escolares em papel e os digitais convivem, retirando-se o melhor de ambos os formatos.

As declarações foram feitas no âmbito do encontro "Educational Publishers Forum (EPF)", realizado pela International Publishers Association (IPA), que decorreu ontem, em Lisboa.


Recorde-se que o Governo tem intenção de, até ao final da legislatura (2026), todas as escolas terem manuais digitais, havendo este ano letivo cerca de 12 mil alunos que os estão a utilizar. Ainda assim, o ministro da Educação diz querer avançar "com precaução e baseando-se em garantias" que ainda não existem, afirmando que o efeito desta utilização em 66 agrupamentos escolares ainda está a ser avaliada.


Evitar ser "cobaias"

Ana Rita Bessa, administradora da LEYA e membro da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, disse ao JN que os editores estão preocupados com "esta ideia fundamentalista [de adoção total do modelo digital], que provavelmente não garante melhores resultados. Os poucos estudos que existem apontam para que o digital exclusivo leva a piores resultados na apreensão do texto, por exemplo". Acredita ser necessário avaliar qual será a melhor solução, consoante o grau de ensino e a disciplina em questão.
Ana Rita Bessa mostra-se apreensiva sobre o modo como a digitalização vai avançar nas escolas: "É ótimo sermos pioneiros, é péssimo sermos cobaias". Por isso, defende ser essencial olhar para as experiências internacionais de países que já adotaram este modelo porque "quando na Educação nos atiramos para fora de pé, é uma geração que fica comprometida".

Já Stephan de Valk, presidente do EPF, defendeu que a tecnologia existe para fortalecer os manuais em papel, acreditando também num modelo híbrido, em que se aposte na digitalização dos exercícios e das avaliações, mantendo a leitura de textos em papel. "Gerações de alunos não podem ser expostas a experiências arriscadas e não comprovadas", alerta.

Solução conjunta

Ana Rita Bessa declarou que a APEL procura "trabalhar com o ministro da Educação para alcançar soluções moderadas", assegurando que João Costa tem mostrado abertura para a construção de uma solução conjunta. Na sua opinião, quando se pensa na forma como será feita essa transição, devem também ser ouvidos pais e professores.

O EBF é o único fórum global que reúne os principais editores de todo o mundo especializados em educação e que tem como objetivo debater a forma como devem ser produzidos os manuais escolares para os 1.º, 2.º e 3.º ciclos de ensino.