Póvoa de Varzim

Inspeção do Ambiente diz que não há lei para agir contra mau cheiro

Responsáveis do aterro garantem que são usadas as "melhores técnicas disponíveis" Direitos Reservados

"Não existe legislação específica nacional e/ou europeia sobre odores" e, como tal, a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) nada pode fazer. Foi esta a resposta enviada à Câmara da Póvoa de Varzim. Em causa está o mau cheiro exalado pela aterro da Resulima em Paradela, Barcelos, que, há um ano, faz desesperar os moradores das vizinhas freguesias de Laundos e Rates, na Póvoa de Varzim.

A Resulima, que trata os lixos de seis municípios dos distritos de Braga e Viana do Castelo, tinha 180 dias para resolver o problema, mas, findo o prazo, diz quem lá mora, "está tudo na mesma". A IGAMAOT passa, agora, a bola para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e para a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). O aterro de Paradela custou 28 milhões de euros (entre os quais 19,8 milhões de fundos comunitários).

"No âmbito das suas competências, não existem mais diligências a serem tomadas por esta Inspeção-Geral, até pronúncia das decisões a emitir pelas entidades licenciadoras (CCDRN e APA)", refere a IGAMAOT no ofício enviado à Câmara da Póvoa de Varzim, a que o JN teve acesso. A IGAMAOT explica que, "no âmbito das suas competências" e perante as várias reclamações de moradores, juntas e Câmara, fez, em agosto uma inspeção ao aterro.

"O operador está a desenvolver esforços no sentido de minimizar os efeitos indesejáveis da sua atividade para as populações na proximidade das suas instalações, atendendo ao cumprimento das medidas impostas pelas entidades licenciadoras", conclui a inspeção, elencando, entre outros, a "instalação de um sistema de neutralização de odores em redor do parque coberto da maturação", o fecho de todos os portões, o "aumento dos tempos de maturação nos túneis de compostagem", os "sistemas de desodorização" e a "cobertura diária dos resíduos depositados em aterro".

O certo é que, em novembro, os moradores das duas freguesias vizinhas organizaram uma manifestação à porta do aterro. A unidade está em funcionamento há um ano e, queixam-se, "nada mudou": o "pivete" - que o JN testemunhou no local - continua "insuportável" e sente-se a um quilómetro, "está tudo cheio de moscas", "não se pode abrir as janelas de casa" e "até os legumes do quintal ficam com cheiro".

A IGAMAOT diz que CCDR-N e APA deverão fazer uma vistoria em breve, para aferir da implementação das medidas impostas na fiscalização realizada em março. Serão estas duas entidades, a quem compete a emissão das licenças (recusadas em março), a dar, agora, o veredito final.

Inconformidades
Em março, uma vistoria da CCDR-N, APA e Administração Regional de Saúde do Norte detetou oito "inconformidade" no aterro. O "forte odor", "lixos depositados em aterro sem tratamento e deixados a céu aberto", "deficiente cobertura diária dos resíduos" e "tempo de compostagem inferior ao desejável (14 em vez de 28 dias)" foram os mais graves.

Prazo para resolver
As três entidades recusaram passar as licenças de exploração e ambiental ao espaço e deram à Resulima 180 dias para resolver os problemas. Ficou apenas com uma autorização de laboração provisória. O prazo já terminou, mas a nova vistoria ainda não se realizou.

Concelhos servidos
O aterro de Paradela serve os concelhos de Barcelos, Esposende, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Ponte de Lima, num total de 308 mil habitantes. Situado em Paradela (município de Barcelos), o aterro está encostado ao concelho da Póvoa de Varzim, ocupando uma área de 12 hectares. Entrou em funcionamento em janeiro.

"Melhores técnicas"
Aquando da manifestação de novembro, a Resulima garantiu, ao JN, que opera "seguindo as melhores técnicas disponíveis" e que, nos últimos meses, tem implementado medidas para minimizar os impactos".