Justiça

Ex-taxista que disparou sobre bombeiros e GNR diz-se arrependido

O caso ocorreu no dia 16 de fevereiro de 2022 Nuno André Ferreira/Lusa

José Carlos Guerra, acusado de 12 crimes, começou, esta segunda-feira, a ser julgado no Tribunal de Viseu. O ex-taxista mostrou-se arrependido e negou a intenção de ferir ou matar alguém naquela tarde de 16 de fevereiro de 2022.

O homem, que pegou fogo e causou várias explosões na antiga serralharia que tinha em Vale de Madeiros, Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, e depois disparou com uma caçadeira sobre bombeiros e GNR, disse que apenas queria "destruir tudo" e "impedir que os operacionais extinguissem o incêndio".

O arguido contou que se sentia "muito desequilibrado". "Eu estava de cabeça perdida, entrei num estado de desalinho completo. Já não sabia o que andava a fazer. Estava desesperado e não podia continuar a ser humilhado. Aquele dia foi a explosão completa", disse.

O plano foi traçado depois de se ter divorciado da mulher e não ter concordado com a forma como as partilhas foram feitas em tribunal. "Eu nunca estive de acordo. A senhora (ex-mulher) recebeu a parte dela e eu é que tive de pagar as mais-valias", explicou ao coletivo de juízes.

José Carlos Guerra admitiu que sabia que naquele dia ia receber a visita de um agente de execução para "tirar algumas fotografias" ao imóvel e que o viu chegar, altura em que deu "dois tiros para o ar" com o objetivo de o "dissuadir".

Depois, contou, abrigou-se dentro de uma adega subterrânea, para onde levou a arma três dias antes, e todos os disparos de caçadeira foram feitos através de dois postigos com cerca de 2,5 metros de altura. Teve de colocar-se em cima de um escadote para que não atingisse ninguém na cabeça no momento de disparar, porque, insistiu, "a ideia não era atingir pessoas".

"Nunca me passou pela cabeça tirar a vida ou ferir alguém. A arma foi disparada sempre em direção ao muro", garantiu o arguido, mostrando-se arrependido.

"Os primeiros três tiros, a sete metros de distância, atingiram dois bombeiros e um GNR. E os outros dois, a três metros, outros bombeiros. Tinham farda de bombeiros. Também disparei contra a agulheta", revelou.

"[Usar a arma] não fazia parte do plano que eu tinha criado. Hoje não o teria feito", assumiu.

O homem está acusado de quatro crimes de homicídio qualificado agravados na forma tentada, de que foram vítimas três bombeiros e um militar da GNR, e por um crime de homicídio simples agravado na forma tentada praticado contra uma popular. Está indiciado também por quatro crimes de coação agravados e outro de incêndio, explosões e outras condutas especialmente perigosas. É ainda acusado pelo Ministério Público (MP) de detenção de arma proibida e outro de resistência e coação sobre funcionário agravado.

Mariana Rebelo Silva