O agente de execução que tinha sido nomeado pelo Tribunal para proceder à venda da antiga serralharia em Vale de Madeiros, Canas de Senhorim, no concelho de Nelas, não tem dúvidas de que José Carlos Guerra "sabia bem em quem atirava" quando feriu, com tiros de caçadeira, quatro bombeiros e um GNR.
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"Ele sabia bem por que é que atirava e em quem atirava", afirmou Tiago Fernandes, referindo-se aos bombeiros e a um GNR que, na tarde de 16 de fevereiro de 2022, ocorreram a um incêndio numa antiga serralharia.
Os factos ocorreram após o arguido ter sido notificado de que, às 15 horas daquele dia, um agente de execução se deslocaria ao imóvel.
O solicitador contou que durante todo o aparato passou por lá um sobrinho do arguido que lhe terá dito para parar com aquilo. Esteve perto do portão e da adega subterrânea, onde estava o ex-taxista munido de uma caçadeira, e por onde disparou vários tiros, e nunca atingiu o familiar.
"Ele andou por lá a chamá-lo e o tio nunca lhe respondeu, mas não o atingiu. Nunca", sublinhou o agente de execução que, quando chegou, lembra, "já havia fumo na antiga serralharia".
"Parei o carro a quatro metros do portão. Vi fumo e o incêndio a deflagrar. Pensei: "Este senhor está a pregar alguma"", recordou o agente de execução.
Entretanto, os bombeiros chegaram para combater o incêndio. "Vi logo um a cair de joelhos ao portão. Pensei que fosse morrer. O outro que foi para o ajudar, caiu a seguir", recordou Tiago Fernandes, que desconhecia, na altura, a origem dos disparos.
O militar da GNR, que também ficou ferido numa perna, contou que viu o bombeiro que estava a combater com a agulheta cair, mas "sem perceber porquê". No momento a seguir, sentiu que foi atingido.
"Senti a perna bastante quente e uma dor", recordou Carlos Cardoso, que ainda viu cair mais dos bombeiros feridos.
Um deles foi Luís Abrantes, à data, comandante interino dos Bombeiros Voluntários de Canas de Senhorim.
"Fui atingido quando ia ajudar os dois colegas já feridos. Senti um impacto", lembra o bombeiro que esteve internado três meses e submetido a 10 cirurgias, em apenas seis semanas.
Arguido mostra-se arrependido
Durante a manhã já tinha sido ouvido o arguido, José Carlos Guerra, que se mostrou arrependido e negou qualquer intenção de ferir ou matar alguém.
O ex-taxista garantiu que apenas queria "destruir tudo" e "impedir que os operacionais extinguissem o incêndio". Contou, ainda, que se sentia "desequilibrado" e de "cabeça perdida".
José Carlos Guerra está acusado de 12 crimes: quatro de homicídio qualificado agravados na forma tentada, de que foram vítimas três bombeiros e um militar da GNR, um de homicídio simples agravado na forma tentada praticado contra uma popular, quatro crimes de coação agravados e outro de incêndio, explosões e outras condutas especialmente perigosas. É ainda acusado de detenção de arma proibida e outro de resistência e coação sobre funcionário agravado.