Donald Trump não esperou pelo fim do processo negocial com a Comissão Europeia e anunciou, este sábado, tarifas de 30% para todas as exportações de bens da União Europeia (UE) para os Estados Unidos, a partir de 1 de agosto. No caso português, está em risco a venda de produtos que valem 5318 milhões de euros por ano.
As tarifas aduaneiras de 30% foram anunciadas numa carta enviada pelo líder dos Estados Unidos da América (EUA) à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com quem negociava há quatro meses. Na carta que publicou na rede Truth Social, Trump argumenta que quer evitar “défices comerciais de longo prazo” com a UE. Só admite reverter a decisão “se a UE ou as suas empresas decidirem fabricar produtos nos EUA”.
As tarifas significam que os empresários dos EUA que importam bens da UE e de Portugal vão pagar mais 30% por cada produto. Esta verba adicional entra para os cofres da Administração norte-americana, mas deverá ser refletida no preço final dos produtos, que aumenta. Isto reduz a procura, as vendas e, por consequência, as importações. O que prejudica também quem exporta.
Têxteis, móveis e armas
Em 2024, as exportações portuguesas para os EUA foram de 5318 milhões de euros. Os produtos farmacêuticos lideram a lista, com quase 1168 milhões de euros de vendas para o mercado norte-americano. Seguem-se os combustíveis (1078 milhões) e as máquinas (530 milhões).
No entanto, há setores de menor valia que estão muito dependentes do mercado dos EUA, como são os casos dos têxteis, dos móveis e das armas. É que no caso das armas, por exemplo, quase toda a produção industrial nacional é vendida aos EUA. Para agravar, os 60 milhões de euros em armas exportadas em 2024 para os EUA foram quase todos fabricados numa só empresa: a Browning, de Viana do Castelo.
Assim, as duas consequências mais imediatas das tarifas são a subida dos preços dos bens portugueses nos EUA e a possível quebra na procura, com impacto nas exportações nacionais. Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, não esconde que o impacto seria “muito alto” com “efeitos bastante negativos para os consumidores, produtores e economias de ambos os lados”. O governante português alinhou a reação com a Comissão Europeia e defendeu negociações.
Bruxelas não afronta
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, também não afrontou Donald Trump e aposta em “chegar a um acordo até 1 de agosto”. Admite, porém, que as tarifas de 30% “interromperiam cadeias de fornecimento transatlânticas essenciais”, pelo que a UE adotará "contramedidas proporcionais, se isso for necessário".
Na mesma toada, António Costa, presidente do Conselho Europeu, defendeu “um acordo justo” com Trump. Os chefes de Governo de Espanha, França, Itália e Alemanha secundaram-no nesta ideia.
Já Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a “reação muito serena” de Bruxelas e, em particular, do Governo português: “Adotou uma posição de bom senso, de serenidade, a pensar no interesse de Portugal, da Europa e da comunidade internacional”. O presidente da República frisou que o anúncio a meio das negociações “foi surpreendente”, mas acrescentou que “esta história não terminou”, pois crê no acordo.
Impacto na União Europeia
A UE exportou 532 600 milhões de euros de bens para os EUA, no ano passado. A Alemanha é o Estado-membro da UE mais exposto às tarifas, pois exportou 161 200 milhões de euros de produtos para os EUA, em 2024.
O setor dos medicamentos é o que mais exporta para os EUA (119 720 milhões de euros), seguido pelo dos carros (50 880 milhões). Os fabricantes alemães pediram uma “solução rápida”.