Instituto da Vinha e do Vinho prevê que redução nacional possa chegar aos 11% por causa da instabilidade climática que afetou a floração e doenças.
Oito regiões vitivinícolas do país deverão sofrer quebras na produção de vinho devido à instabilidade meteorológica e doenças fúngicas, que afetaram os cachos que vão começar brevemente a ser vindimados. Para além do Douro, que poderá chegar aos 20%, tal como o JN noticiou há dias, também Lisboa, Alentejo, Madeira, Verdes, Tejo, Península de Setúbal e Trás-os-Montes poderão ver os volumes nas adegas decrescer.
As previsões do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), que resultam da auscultação feita às Entidades Regionais representativas do setor, apontam para uma diminuição na produção na ordem dos 11% na campanha que se inicia agora em agosto, face à campanha anterior. Isto significa que o volume deverá ficar pelos 6,192 milhões de hectolitros, menos 732 mil hectolitros (mhl) do que na campanha anterior.
As previsões indicam que as regiões do Douro (-20%, passando de 1635 mhl para 1308), de Lisboa (-15%, descida de 1212 mhl para 1030 mhl) e do Alentejo (- 15%, de 1135 mhl para 964 mhl), apresentarão as maiores descidas, relativamente à última campanha, com um total de quebras de 680 mil hectolitros. Seguem-se a Madeira (-8%, 30 mhl para 28 mhl), Verdes (-5%, 1003 mhl para 953 mhl), Tejo (-5%, 651 mhl para 618 mhl), Península de Setúbal (-5%, de 455 para 432) e Trás-os-Montes (-5%, de 99 para 94 mhl).
Nas regiões da Bairrada e de Távora-Varosa não são expectáveis variações na produção. Em contraciclo, prevêem-se aumentos nas regiões do Dão (+15%, para 246 mhl), Beira Interior (+10%, para 247 mhl), Algarve (+4%, para 22 mhl) e Açores (+105%, para 7 mhl).
Baixa na França e Alemanha
"Muita da previsão [de quebra] tem a ver com a floração, na qual houve problemas devido a fatores climatéricos adversos. Também houve muita pressão de doenças, sobretudo míldio", explicou, ao JN; Frederico Falcão, presidente da Vini Portugal, a organização Interprofissional do Vinho de Portugal. Daqui até à vindima, se houver "excesso de calor", poderão surgir mais danos, provocados por "escaldão", um fenómeno que seca as uvas, acrescentou.
Como muitas adegas têm, nesta altura, "algum excesso de vinho", a baixa de produção pode contribuir, numa visão global, a "equilibrar a balança" entre oferta e procura, referiu ainda Frederico Falcão. Não é expectável que a situação "mexa com os preços" ao consumidor.
A baixa não é exclusiva de Portugal. Segundo a edição do verão de 2025 do relatório da Comissão Europeia sobre as perspetivas a curto prazo dos mercados agrícolas da União Europeia (UE), ontem divulgada, a produção de vinho deverá ficar 10% abaixo da média de cinco anos, com uma quebra anual de 5%, para um mínimo histórico de 20 anos (137 milhões de hectolitros) na campanha de 2024/2025. Isto deve-se a uma quebra de 25% da produção vinícola em França, de 11% na Alemanha e 8% em Portugal, que os aumentos de 15% em Itália e de 10% em Espanha não compensam.
A contrariar a tendência decrescente no vinho, assim como no açúcar e carne de ruminantes, há outros setores que mostram melhorias. Os dados da Comissão Europeia indicam que a produção de azeite está a recuperar acentuadamente, com um aumento até junho de 37%, que levou a uma baixa dos preços. A produção de aves de capoeira deverá também crescer, apoiada por uma procura crescente. Apesar dos níveis historicamente elevados, os agricultores registaram recentemente uma estabilização dos custos dos fatores de produção.