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ONU exige suspensão imediata do plano de Israel para controlo de Gaza

Ofensiva israelita arrasou Gaza e deixou população numa grave crise humanitária Foto: Bashar TALEB / AFP

A Organização das Nações Unidas (ONU) exigiu, esta sexta-feira, que o plano israelita de controlo militar da Faixa de Gaza seja "imediatamente suspenso". Oposição israelita diz que decisão "é um desastre que conduzirá a muitos mais desastres". Famílias de reféns falam numa "catástrofe colossal".

O Gabinete de Segurança do Governo de Israel aprovou um plano militar proposto pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, para ocupar a cidade de Gaza, no norte do enclave.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, defende num comunicado que o plano, aprovado esta sexta-feira de madrugada por Israel, "vai contra a decisão do Tribunal Internacional de Justiça de que Israel deve pôr fim à sua ocupação o mais rapidamente possível, contra a concretização da solução de dois Estados acordada e contra o direito dos palestinianos à autodeterminação".

"Um desastre que conduzirá a muitos mais desastres"

O líder da oposição israelita, Yair Lapid, afirmou que a decisão do governo israelita de ocupar a Cidade de Gaza, onde vive um milhão de habitantes, "é um desastre que conduzirá a muitos mais desastres".

Lapid afirmou na sua conta na rede social X que a decisão do Executivo israelita está "em completa contradição com a opinião do Exército e dos funcionários de segurança" e que não leva em consideração "o desgaste e a exaustão das forças combatentes".

O líder da oposição considerou que os dois ministros ultranacionalistas e colonos israelitas - o das Finanças, Bezalel Smotrich, e o da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir - levaram o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a tomar uma decisão que "levará meses" e "conduzirá à morte dos reféns e de muitos soldados".

Além disso, disse ainda, esse plano "custará aos contribuintes israelitas dezenas de milhões e levará a um colapso político".

"Isso é exatamente o que o Hamas queria: que Israel ficasse preso num território, sem objetivo, sem definir o panorama para o dia seguinte, numa ocupação inútil, que ninguém entende onde leva", afirmou.

"Irresponsabilidade"

As famílias dos reféns israelitas denunciam "a irresponsabilidade" do Governo, após ter sido aprovado o plano de ocupação da Cidade de Gaza, e voltam a exigir um acordo com o Hamas para libertação dos sequestrados.

"O nosso Governo está a caminho de uma catástrofe colossal, para os reféns e os para nossos soldados. O gabinete [de segurança] decidiu ontem [quinta-feira] à noite embarcar numa nova marcha de irresponsabilidade à custa dos reféns, dos soldados e da sociedade israelita", afirmou o Fórum de Familiares de Reféns e Pessoas Desaparecidas, em comunicado.

O grupo, que representa a maioria das famílias das duas centenas de sequestrados a 7 de outubro de 2023, durante os ataques do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel, afirmou que este plano significa abandonar os reféns, além de ignorar os alertas da liderança militar e a vontade do público israelita.

"Ao optar pela escalada militar em vez da negociação, estamos a deixar os nossos entes queridos à mercê do Hamas, uma organização terrorista maléfica que mata sistematicamente os reféns à fome e abusa deles", denunciou o Fórum.

UE pede a Israel que reconsidere

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu a Israel que reconsidere a expansão da ocupação no enclave palestiniano da Faixa de Gaza.

"A decisão do Governo de Israel de expandir as operações militares em Gaza tem de ser reconsiderada", escreveu a presidente do executivo comunitário, nas redes sociais.

Ursula von der Leyen pediu a libertação dos reféns israelitas ainda retidos em Gaza - cerca de 50, dos quais 20 ainda vivos -, que, disse, estão em "condições desumanas".

A responsável europeia defende ainda que um "acesso imediato e sem obstáculos" da ajuda humanitária da Gaza "para entregar o que é urgentemente necessário no terreno", após meses de bloqueio e quando a ONU alerta para uma "fome generalizada" no enclave, onde vivem mais de dois milhões de palestinianos.

Ursula von der Leyen insistiu ainda no apelo a um cessar-fogo "agora".

"Mais derramamento de sangue"

Também o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, considera "errada" a decisão de Israel ocupar a Cidade de Gaza e instou o governo israelita a "reconsiderar imediatamente" a medida aprovada.

"A decisão do governo israelita de intensificar ainda mais a ofensiva em Gaza é errada, e instamos que reconsidere imediatamente. Esta ação não porá fim a este conflito ou garantirá a libertação dos reféns. Só levará a mais derramamento de sangue", disse Keir Starmer num comunicado.

Irá causar "mais destruição e sofrimento"

O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, condenou firmemente a decisão do Governo israelita, sublinhando que a medida só irá causar "mais destruição e sofrimento".

O ministro criticou os planos de "intensificação da ocupação militar" de Gaza, enfatizando a necessidade urgente de um cessar-fogo permanente, o fluxo massivo de ajuda humanitária e a libertação de todos os reféns ainda detidos pelo grupo islamita Hamas.

A paz definitiva na região, acrescentou Albares numa mensagem publicada nas redes sociais, só será alcançada com o "estabelecimento de uma solução de dois Estados", que inclua um Estado da Palestina "realista e viável".

"Rejeição total da decisão"

O Governo belga convocou esta sexta-feira a embaixadora israelita em Bruxelas para exigir que Israel "volte atrás" no plano de ocupar a cidade de Gaza, acusando Telavive de "continuar a colonização".

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Maxime Prévot, convocou a embaixadora de Israel em Bruxelas, Idit Rosenzweig-Abu, e exigiu que o Governo de Benjamin Netanyahu "volte atrás" numa decisão que, considerou, vai deteriorar ainda mais as condições de vida dos palestinianos, ameaçados de "fome generalizada", segundo a ONU.

"Manifestámos a nossa rejeição total desta decisão", disse Prévot, em declarações à agência de notícias Belga, acusando Israel de "continuar a colonização".

JN/Agências