Mundo

Nova crise política em França deixa Macron perante três saídas arriscadas

O presidente francês, Emmanuel Macron Foto: Nicolas Tucat / AFP

Perante a nova crise política, precipitada pela demissão do recém-nomeado primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, o presidente francês está confrontado com três opções, todas igualmente arriscadas.

Sébastien Lecornu apresentou esta segunda-feira a demissão a Emmanuel Macron, que a aceitou, mergulhando a França num novo impasse político.

Nomeado em 9 de setembro, Lecornu foi alvo de críticas por parte dos opositores e da direita depois de divulgar parte da composição do Governo na noite de domingo, o terceiro num ano.

Lecornu devia apresentar a declaração de política geral à Assembleia Nacional francesa na terça-feira.

Macron incumbiu o primeiro-ministro demissionário de conduzir as "negociações finais" até quarta-feira à noite, com o objetivo de "definir uma plataforma de ação e estabilidade para o país".

Nova nomeação

No espaço de um ano, Macron nomeou como chefes de governo Michel Barnier, François Bayrou e Sébastien Lecornu, e pode decidir agora nomear um novo primeiro-ministro.

A primeira hipótese é que, se Lecornu conseguir definir os contornos de uma "plataforma de ação e estabilidade para o país", missão imposta pelo chefe de Estado, este poderá voltar a nomear Lecornu para chefiar o Governo, a menos que escolha outra personalidade para a desenvolver.

Tal como desde as eleições legislativas que se seguiram à dissolução no verão de 2024, a esquerda reivindicou o cargo e o Partido Socialista (PS) lançou hoje um novo apelo nesse sentido.

A "coabitação" com a esquerda é "a última saída que Emmanuel Macron tem", afirmou a líder dos Verdes, Marine Tondelier.

Mas cada um destes casos não exclui o risco de uma rápida censura à futura equipa governamental, tanto mais que a União Nacional (extrema-direita) subiu o tom ao garantir que vai censurar "sistematicamente" qualquer Governo até à dissolução.

Dissolução: "inevitável" ou arriscada?

O presidente "assumirá as suas responsabilidades", indicaram fontes da presidência francesa, se Lecornu não conseguir conciliar uma coligação praticamente desfeita.

Com esta fórmula, paira mais do que nunca a ameaça de dissolução da Assembleia Nacional, depois da de junho de 2024.

"Estamos no fim do caminho, temos de parar. Ministros da direita, ministros da esquerda, nós paramos, e são os franceses que vão decidir", disse a líder da extrema-direita Marine Le Pen, para quem a dissolução é "absolutamente inevitável".

Os apelos à realização de eleições legislativas antecipadas são cada vez mais numerosos, por parte da extrema-direita, mas também numa parte da direita.

A aposta, no entanto, parece extremamente arriscada para Macron, que já havia feito com que o seu campo perdesse quase 100 deputados em 2024, quando convocou eleições antecipadas após a vitória da extrema-direita nas europeias.

Desta vez, poderá ser "um massacre", disse um ex-ministro do campo presidencial.

A demissão... ou destituição?

A última opção, a mais espetacular, é a saída de Macron, que se vê cada vez mais diretamente visado pela oposição.

Le Pen disse que não precisa "de pedir" ao presidente francês que renuncie, mas considerou na sexta-feira que seria uma "decisão sábia".

Mesmo à direita, ouvem-se alguns apelos à demissão de Macron.

"O interesse da França exige que Emmanuel Macron apresente a demissão", escreveu o vice-presidente do partido Republicanos (LR), David Lisnard, na rede social X.

Esta saída é defendida insistentemente pelo partido França Insubmissa (LFI).

"Tudo o que resta hoje é a saída do presidente da República, seja por demissão ou por destituição", disse o coordenador do movimento de esquerda radical, Manuel Bompard.

O LFI tinha apresentado uma moção de destituição de Macron no início de setembro, cuja admissibilidade deverá ser analisada na quarta-feira pela mesa da Assembleia. Mas o procedimento, que é complexo, parece condenado ao fracasso nesta fase.

JN/Agências