Justiça

"Pacto de silêncio" entre arguidos em julgamento por tráfico de pessoas em Beja

PJ deteve os suspeitos na "Operação Espelho" Foto: Teixeira Correia

Ficaram em silêncio, naquilo que foi interpretado como um pacto, os dez arguidos que marcaram presença na primeira sessão do julgamento da denominada "Operação Espelho - Parte 1", na manhã desta segunda-feira, em Beja, por tráfico de pessoas.

Dos arguidos presentes no julgamento (três faltaram e estão em parte incerta), que decorre no auditório da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, seis (cinco homens e uma mulher) estão em prisão preventiva desde 24 de novembro de 2023. Depois de identificados pela presidente do Coletivo de Juízes do Tribunal de Beja, repetiram as mesmas palavas: "Hoje não falo, só mais à frente, no decurso do julgamento."

Como o dia de hoje e de amanhã estava reservada para ouvir os arguidos, a sessão foi suspensa e o julgamento será retomado na próxima quarta-feira, com a audição das primeiras testemunhas de acusação. Entre elas estão os inspetores da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT), responsável pela operação, e da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística (UPFC), ambas da Polícia Judiciária.

Sem qualquer justificação, faltaram ao julgamento um cidadão romeno, um moldavo e uma cidadã espanhola, tendo sido emitidos mandados de detenção para condução a tribunal na próxima quarta-feira.

35 crimes

Entre os 13 cidadãos arguidos, há oito cidadãos romenos (sete homens e uma mulher), dois moldavos, dois espanhóis e uma portuguesa. São ainda arguidas sete sociedades comerciais. A acusação imputa 35 crimes, sendo trinta de tráfico de pessoas, um de auxílio à imigração ilegal, um de associação de auxílio à imigração ilegal, um de branqueamento de capitais, um de falsificação ou contrafação de documento e um de detenção de arma proibida.

O processo nasceu na sequência da "Operação Espelho", com duas investigações autónomas, esta iniciada em Lisboa e outra em Cuba, levada a cabo pela UNCT-PJ, em 21 de novembro de 2023, em que foram detidas 14 pessoas.

Segundo a acusação, centenas de imigrantes terão sido aliciados para trabalhar no Alentejo e acabaram explorados. Após a abertura de instrução do processo, uma juíza de instrução criminal do Tribunal de Ferreira do Alentejo decidiu não pronunciar uma cidadã espanhola, residente em Sevilha.

A atividade dos arguidos desenvolveu-se entre 2019 e 2023 e ter-lhes-á garantido vantagens patrimoniais calculadas em 9,1 milhões de euros, que o Ministério Público quer que sejam revertidos para o Estado.

Teixeira Correia