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Desinformação sobre soluções sustentáveis é o maior impedimento à ação climática

Empresas de combustíveis fósseis passaram da negação total para campanhas mais sofisticadas que semeiam dúvidas sobre soluções climáticas Foto: Pedro Pardo / AFP

A maior barreira à ação climática é a desinformação que atualmente se concentra menos em negar as mudanças climáticas e mais em desacreditar soluções propostas, alerta um relatório do Painel Internacional sobre o Ambiente da Informação (IPIE).

Com base na última avaliação sobre a integridade da informação sobre ciência do clima do IPIE, a organização concluiu que a maior barreira à ação climática pode não ser a falta de conhecimento científico, mas a disseminação global de desinformação que visa a confiança pública e a vontade política.

"O negacionismo evoluiu para o ceticismo estratégico: as campanhas agora concentram-se menos em negar as mudanças climáticas e mais em desacreditar a sua eficácia, os custos ou a justiça das soluções propostas", refere a informação divulgada.

O IPIE alerta que nesta matéria a desinformação é direcionada e intencional, uma vez que "líderes, políticos, funcionários públicos e agências reguladoras são os principais alvos nos esforços para atrasar a política climática".

Além disso, "bots" (contas automatizadas) e "trolls" (contas "online" associadas a pessoas que intencionalmente propagam desinformação) são os motores que amplificam a desinformação em grande escala.

"Atores automatizados e coordenados desempenham um papel central na promoção de narrativas enganadoras", refere a organização.

As comunidades marginalizadas e sub-representadas são os grupos considerados pela organização como vulneráveis à desinformação devido a desigualdades estruturais e algoritmos de segmentação, pois recebem informações distorcidas com maior frequência.

Os últimos relatórios citados pela organização evidenciam que as "empresas de combustíveis fósseis, alinhadas com interesses políticos passaram da negação total para campanhas mais sofisticadas que semeiam dúvidas sobre soluções climáticas".

Para o presidente do painel, Klaus Bruhn Jensen, em causa está "um ambiente de informação que foi deliberadamente distorcido".

"Quando corporações, governos e plataformas de media obscurecem as realidades climáticas, o resultado é a paralisia. Enfrentar a emergência climática exige não apenas uma reforma política, mas um acerto de contas inabalável com sistemas que espalham e sustentam falsidades", afirma o académico citado no relatório.

Desta forma, o IPIE salienta que o sucesso da ação climática depende tanto da integridade do ambiente da informação quanto da inovação tecnológica e das metas políticas.

"Sem enfrentar a desinformação, o progresso permanecerá estagnado", lê-se no relatório.

O IPIE é uma organização científica independente e global que fornece conhecimento científico sobre a saúde do ambiente da informação mundial.

JN/Agências