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Duas em cada três pessoas precisam de ajuda humanitária no Sudão

Os Médicos Sem Fronteiras observaram taxas "impressionantes" de desnutrição Foto: AFP

O responsável da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, alertou hoje que duas em cada três pessoas no Sudão precisam urgentemente de ajuda e que a organização está a pressionar as partes beligerantes para chegar a elas.

A situação está a tornar-se "horrível para os civis", declarou Tom Fletcher à agência norte-americana Associated Press (AP), acrescentando que grupos de ajuda humanitária lutam para entregar a assistência às comunidades, apesar do acesso necessário ainda ser "muito limitado pelo conflito".

O exército sudanês e o grupo paramilitar das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa) entraram em guerra em abril de 2023, após tensões entre os antigos aliados que deveriam supervisionar uma transição democrática.

Os combates mataram pelo menos 40 mil pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e deslocaram outras 12 milhões, embora grupos humanitários alertem que o número real de mortos pode ser muito superior ao indicado.

Segundo a diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Amy Pope, os recursos humanitários esgotaram-se significativamente em todo o país, "as pessoas estão exaustas e as vulnerabilidades são extremamente elevadas".

O novo afluxo de deslocados na região de Darfur, oeste do Sudão, agravou a situação, sobrecarregando os campos já superlotados.

Em outubro, as RSF tomaram Al-Fashir, a capital do Darfur do Norte, após mais de 18 meses de cerco, e invadiram o Hospital Saudita, matando mais de 450 pessoas, segundo a OMS.

A Organização Mashad, um grupo de direitos humanos, relatou no domingo que centenas de meninas foram vítimas de violência sexual.

A OIM estima que cerca de 82 mil pessoas fugiram da cidade e arredores até 4 de novembro, rumo a locais seguros como Tawila.

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmaram também que as suas equipas observaram taxas "impressionantes" de desnutrição entre aqueles que fugiram de Al-Fashir e chegaram a Tawila.

Amy Pope também informou virtualmente aos repórteres em Cartum os detalhes horríveis da guerra civil, dizendo que a maioria das pessoas que fugiram das áreas afetadas descrevem ter visto civis serem baleados no local e terem que passar por cima de cadáveres.

"A escala das necessidades é absolutamente incrível. E, claro, isso coincide com um momento em que houve cortes humanitários sem precedentes na assistência humanitária em todo o mundo", disse Pope.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Sudão, Mohi al-Din Salem, disse na terça-feira que o seu Governo não se envolve oficialmente com o grupo mediador liderado pelos Estados Unidos (EUA) conhecido como Quad, defendendo negociações bilaterais com países como o Egito.

O plano dos EUA prevê um cessar-fogo de três meses, seguido por um processo político de nove meses, segundo o consultor dos EUA para assuntos africanos, Massad Boulos.

As RSF afirmaram, na semana passada, que concordaram com a trégua humanitária proposta e, embora o exército acolha a proposta, disse que só concordará com uma trégua se o grupo paramilitar se retirar das áreas civis e entregar as armas.

JN/Agências