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"Atrocidades poderiam ter sido evitadas": Al-Fashir é uma mancha para a comunidade internacional

Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos Volker Türk Foto: Salvatore Di Nolfi/EPA

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos classificou, esta sexta-feira, a violência na cidade sudanesa de Al-Fashir como uma mancha no historial da comunidade internacional, que se revelou incapaz de travar as hostilidades.

"Vestígios de sangue no solo em Al-Fashir foram fotografados do espaço", disse Volker Türk, acrescentando que "a mancha no historial da comunidade internacional é menos visível, mas não menos destrutiva".

"As atrocidades que estão a ocorrer em Al-Fashir eram previsíveis e poderiam ter sido evitadas, mas não foram. Estes são dos mais graves crimes. O meu gabinete emitiu mais de 20 comunicados só sobre Al-Fashir no último ano, com base em informações verificadas pela nossa equipa", referiu o Alto-Comissário.

A guerra civil no Sudão, que se arrasta há dois anos e meio, é um conflito oculto que envolve vários países da região pela disputa de recursos e matérias-primas, e a comunidade internacional deve agir, segundo o Alto-Comissário.

Nesta sessão especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre os crimes cometidos durante e após o cerco à cidade de Al-Fashir, na região de Darfur, no oeste do Sudão, Türk enfatizou que o Conselho de Segurança deve remeter os abusos cometidos neste conflito para o Tribunal Penal Internacional.

Nesta guerra, "estão envolvidos inúmeros países da região", salientou Türk na abertura da sessão, sem referir casos específicos.

O Exército sudanês, por seu lado, tem acusado repetidamente os Emirados Árabes Unidos (EAU) de armar as Forças de Apoio Rápido (RSF), rebeldes que cercaram El-Fasher durante um ano e meio e que finalmente a capturaram a 26 de outubro, derrubando assim o último bastião das Forças Armadas sudanesas no Darfur.

Após a conquista, Türk noticiou na sexta-feira que houve relatos de assassinatos em massa de civis, execuções por motivação étnica, violência sexual, raptos, detenções arbitrárias e ataques a profissionais de saúde, entre outros abusos.

"Já tínhamos avisado que a queda da cidade para as Forças de Apoio Rápido poderia terminar num banho de sangue (...) mas os nossos avisos não foram ouvidos", lamentou o Alto-comissário austríaco, que alertou que a tragédia poderia repetir-se em Kordofan, a região a leste do Darfur, onde os combates estão atualmente concentrados.

"Todos os sinais apontam para isso: bombardeamentos, bloqueios, pessoas forçadas a abandonar as suas casas e um terrível desrespeito pela vida civil... Kordofan não deverá sofrer o mesmo destino que o Darfur", declarou.

Türk reiterou os seus apelos para que a comunidade internacional imponha um embargo de armas a todo o território do Sudão, e não apenas à região ocidental do Darfur, como tem sido o caso até agora, e para que faça tudo o que for possível para facilitar o fluxo de ajuda humanitária para o país.

O Alto-Comissário reiterou os seus apelos para que a comunidade internacional imponha um embargo de armas a todo o território do Sudão, e não apenas à região ocidental do Darfur, como tem sido o caso até agora, e para que faça tudo o que for possível para facilitar o fluxo de ajuda humanitária para o país.

Isto incluiria "ajudar a garantir que os fundos humanitários sejam totalmente reembolsados", enfatizou a responsável pelos direitos humanos da ONU, quando existem dificuldades financeiras para várias agências da ONU devido à redução das contribuições, algo que tem sido particularmente drástico em relação aos Estados Unidos, o principal financiador de muitas delas há anos.

A guerra no Sudão eclodiu a 15 de abril de 2023 e, desde então, já matou dezenas de milhares de pessoas e desalojou mais de 13 milhões, enquanto mais de metade da população sofre de insegurança alimentar aguda, segundo a ONU.

JN/Agências