
Sudaneses que fugiram de Al-Fashir descansam à chegada ao campo de deslocados de Al-Afad, na cidade de Al-Dabba, Norte do Sudão.
Foto: Ebrahim Hamid / AFP
A Amnistia Internacional (AI) acusou esta quarta-feira os paramilitares sudaneses das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) de matarem deliberadamente civis e defendeu que o embargo de armas aplicado ao Darfur, no Oeste do Sudão, deve alargar-se a todo o país.
"As Forças de Apoio Rápido mataram deliberadamente civis, fizeram reféns, saquearam e destruíram mesquitas, escolas e clínicas de saúde durante um ataque em grande escala, em abril, a Zamzam, o maior campo para pessoas deslocadas internamente (PDI) no estado de Darfur do Norte", denunciou a AI.
No relatório "Um refúgio destruído: Violações das RSF no campo de Zamzam para pessoas deslocadas internamente no Darfur" hoje divulgado, a organização não-governamental (ONG) defende que estas violações sejam investigadas como crimes de guerra ao abrigo do Direito Internacional.
O trabalho da AI documenta como as RSF atacaram o campo, entre 11 e 14 de abril deste ano, com "armas explosivas e disparando aleatoriamente as suas armas de fogo em áreas residenciais populosas".
Na capital do estado de Darfur do Norte, Al-Fashir, civis foram atacados impiedosamente, mortos, despojados de itens essenciais para a sua sobrevivência e subsistência e deixados sem recurso à Justiça, "enquanto choravam a perda dos seus entes queridos", lamentou a ONG.
A secretária-geral da AI, Agnès Callamard, citada em comunicado, afirma que houve uma campanha das RSF focada em aldeias e campos de PDI. "Alguns parceiros internacionais, como os Emirados Árabes Unidos, alimentaram ativamente o conflito armado ao apoiar as RSF com armas", apontou.
Na opinião de Callamard, a única forma de se terminar com as violações de direitos humanos é através do controlo do fluxo de armas para as partes em conflito, "alargando o embargo de armas que atualmente se aplica ao Darfur ao resto do país". Assim, Callamard pediu aos "Estados-membros da União Africana - atualmente presidida por Angola -, da União Europeia e da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, o Reino Unido, os Estados Unidos, a Rússia e a China que exortem todos os países, mas sobretudo, em primeiro lugar, os Emirados Árabes Unidos (EAU), a absterem-se de transferir armas e munições para as RSF, as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e outros intervenientes" no conflito sudanês.
Além disso, acrescentou, os países devem cessar "imediatamente todas as transferências de armas para os EAU", para que não haja possibilidade destas chegarem ao Sudão.
Testemunhos, vídeos, fotografias e imagens de satélites
Para este relatório, a AI afirmou ter realizado uma investigação, entre junho e agosto deste ano, em que entrevistou 29 pessoas, nomeadamente testemunhas e sobreviventes. A organização também verificou e analisou dezenas de vídeos, fotografias e imagens de satélite, acrescentou.
Com base na informação recolhida, a ONG citou que testemunhos oculares e provas em vídeo demonstram que as RSF tiveram como alvo civis devido à sua "percebida afiliação às Forças Conjuntas - uma aliança de antigos grupos rebeldes do Darfur, que lutam ao lado das SAF - e às SAF.
"As pessoas deslocadas entrevistadas pela AI descreveram viagens árduas em busca de segurança, sem comida, água e serviços médicos. Algumas sofreram atos que podem constituir crimes de guerra de violação, homicídio e pilhagem", lamentou.
A guerra no Sudão eclodiu em 15 de abril de 2023 e, desde então, dezenas de milhares de pessoas morreram, mais de 14 milhões foram forçadas a fugir das suas casas e mais de metade da população do país enfrenta uma grave insegurança alimentar, segundo as Nações Unidas.
