Francisco Franco morreu a 20 de novembro de 1975. Agora, 50 anos depois, segundo uma sondagem do "El País", 17,4% da população espanhola considera que, "em determinadas circunstâncias", um regime autoritário "pode ser preferível". Por faixa etária, quase um quarto dos jovens diz preferir uma ditadura.
A sondagem foi realizada com base em duas mil entrevistas e analisa o grau de conhecimento da população relativamente ao passado ditatorial, bem como as consequências da Guerra Civil espanhola e do regime franquista.
Vencedor da Guerra Civil espanhola, que decorreu entre 1936 e 1939, Francisco Franco governou o país de forma implacável durante 36 anos e, após a sua morte, nenhum dirigente do regime autoritário foi julgado, graças a uma ampla amnistia que beneficiou os dois lados do conflito.
Os dados recolhidos revelam que quase um quarto dos jovens preferia um regime autoritário a um democrático - 23,6% no caso da geração Z (18-28 anos) e 22,9% na geração Y (29-44 anos).
Embora quase três quartos da população(73,7%) acredite que "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo", 17,4% considera que "um regime autoritário pode ser preferível" e 8,8% afirma que lhes é "indiferente um regime ou outro".
A maioria das pessoas (64,3%) identificou corretamente o período em que o regime de Franco existiu (1939-1975) e quase metade dos participantes da Geração Z e dos Millennials (29-44 anos) não conseguiu situar o período. Já 54,9% da população considera o regime de Franco "mau" ou "muito mau" e 24,8% consideram que "não foi bom nem mau".
Quando questionados sobre a Guerra Civil Espanhola e o regime franquista na infância ou adolescência, as respostas mais comuns são "pouco" ou "nada".
Embora a maioria da população (82,1%) considere que a morte de Franco, há 50 anos, tenha provocado uma "mudança total" ou uma "mudança significativa", e quase 70% indiquem que essa mudança foi "para melhor", 72,7% veem pouca ou nenhuma necessidade de uma comemoração pública deste aniversário.
Ligação entre Vox e Franco
A sondagem mostra que quase sete em cada dez pessoas acreditam que o Vox, a terceira maior força política de Espanha, mantém "laços ideológicos ou simbólicos com o franquismo", seguido pelo Partido Popular (PP). A análise por faixas etárias permite concluir que os eleitores mais velhos compreendem a ligação entre o Vox e o franquismo numa extensão muito maior do que os eleitores mais jovens.
Os dados mostram ainda que no caso dos eleitores do Vox, o número de pessoas que prefere a democracia desce para 48,9%, sendo que os participantes na sondagem revelam que, "em determinadas circunstâncias", optariam por um regime autoritário (38,3%).
De acordo com a análise do "El País", o crescimento da extrema-direita e os discursos negacionistas marcaram a população espanhola.
Polarização política
A sondagem do jornal espanhol mostra um país dividido, alinhado com o aumento dos elogios ao período franquista por parte dos jovens espanhóis, que geralmente têm conhecimentos reduzidos sobre a época e que, estimulados pelas redes sociais, são mais permeáveis à propaganda, segundo analistas.
"É um problema de educação (...) As pessoas que não viveram a ditadura podem ser arrastadas para um relato de reescrita da ditadura", adverte Paloma Román, doutora em Ciências Políticas e diretora da Escola de Governo da Universidade Complutense de Madrid, em entrevista à AFP.
A analista realça que a polarização política aumenta a divisão da população, com um Governo de esquerda cuja bandeira é reabilitar a memória das vítimas do franquismo e uma Oposição de direita e extrema-direita que se recusa a "reabrir feridas".
O Governo do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez promoveu, em 2022, uma lei de memória democrática que, entre outras coisas, criou um arquivo de vítimas e determinou a retirada de símbolos franquistas dos espaços públicos. Organizou também um ciclo de eventos, durante todo o ano, chamado "Espanha em liberdade", para recordar que há meio século começou o "difícil caminho" rumo à democracia e celebrar "o país próspero, plural e democrático".
Já o conservador Partido Popular, segunda força política espanhola, argumenta que Sánchez usa a "carta de Franco" para tentar esconder a fragilidade do seu Governo, objeto de vários processos que afetam o seu círculo próximo e que enfrenta grandes dificuldades para aprovar leis no Parlamento.
Para o partido de extrema-direita Vox, que tinha uma representação pequena há menos de uma década e, atualmente, é a terceira força política do país, o governo de Sánchez "é o pior em 80 anos de história", um período que inclui a ditadura franquista.