Um almirante norte-americano, agindo sob a autoridade do secretário da Defesa, Pete Hegseth, ordenou a operação militar de "duplo ataque" contra os sobreviventes de um ataque inicial a uma embarcação alegadamente utilizada para contrabando de droga, informou a Casa Branca esta segunda-feira. Os dois bombardeamentos, em setembro, provocaram 11 mortes.
Esta operação ofensiva foi o primeira de dezenas que ocorreram nos meses seguintes, deixando mais de 80 mortos. A Administração Trump insistiu que está efetivamente em guerra contra os alegados "narcoterroristas", e a Casa Branca afirmou que o Almirante Frank Bradley, que atualmente comanda o Comando de Operações Especiais dos EUA, agiu de forma legal e correta ao ordenar o segundo ataque contra os sobreviventes.
Bradley "agiu dentro da sua autoridade e da lei ao dirigir a operação para garantir que a embarcação fosse destruída e a ameaça aos Estados Unidos da América fosse eliminada", disse a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, aos jornalistas. Hegseth "autorizou o Almirante Bradley a realizar estes ataques cinéticos", disse a porta-voz.
Os meios de comunicação norte-americanos noticiaram na semana passada que um ataque inicial, a 2 de setembro, deixou duas pessoas vivas, que foram mortas num ataque subsequente para cumprir uma ordem de Hegseth. Na altura, Trump anunciou que 11 alegados membros do gangue venezuelano Tren de Aragua foram mortos no que descreveu como "um ataque cinético".
Os ataques subsequentes que deixaram sobreviventes foram seguidos de operações de busca e salvamento que recuperaram duas pessoas num caso e não conseguiram encontrar outra em outubro.
Hegseth insistiu que os ataques são legais, afirmando numa publicação recente no X que a acção militar está "em conformidade com o direito dos conflitos armados e foi aprovada pelos melhores advogados militares e civis, em todos os níveis da cadeia de comando". No entanto, a ação militar de 2 de setembro parece contrariar o próprio Manual de Direito da Guerra do Pentágono, que afirma: "Por exemplo, as ordens para disparar sobre os náufragos seriam claramente ilegais".
Trump enviou os maiores aviões do mundo e uma série de outros recursos militares para as Caraíbas, insistindo que estão ali para operações de combate ao narcotráfico. As tensões regionais aumentaram em resultado dos ataques e do reforço militar, com o líder da Venezuela, Nicolás Maduro, a acusar Washington de usar o narcotráfico como pretexto para "impor uma mudança de regime" em Caracas.
Maduro, cuja reeleição no ano passado foi rejeitada por Washington como fraudulenta, insiste que não há cultivo de drogas na Venezuela, que, segundo ele, é usada como rota de tráfico de cocaína colombiana contra a sua vontade.