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O que Portugal pesquisou em 2025: o retrato digital de um ano em mudança

O Mundial de Clubes liderou o "Ano em Pesquisa" da Google: a competição mobilizou adeptos e dominou as pesquisas em 2025 Foto: AFP

Do futebol às tragédias que abalaram o país, da inteligência artificial às tendências virais, o "Ano em Pesquisa" da Google revela como os portugueses sentiram, reagiram e viveram online ao longo de 2025.

Todos os anos, a Google transforma o que se escreve na caixa de pesquisa num retrato coletivo do que mais despertou a atenção da sociedade. Em 2025, os dados do "Ano em Pesquisa" mostram um país que procura compreender o que acontece à sua volta, resolver o quotidiano e acompanhar fenómenos culturais globais, enquanto reage a emoções profundas como a perda e a paixão desportiva.

Este balanço não se limita a identificar os termos mais frequentes, mas sim aqueles que mais cresceram em procura, olhando para picos sustentados de interesse ao longo do ano em comparação com 2024. A análise resulta da agregação de triliões de pesquisas, filtradas para eliminar repetições e spam, cruzando a ferramenta Google Trends com outras fontes internas. O objetivo, sublinha a empresa, é captar "o espírito do ano".

E o que moveu os portugueses em 2025? No topo das tendências gerais surge o Mundial de Clubes, que mobilizou adeptos de norte a sul. A cada jogo, a cada golo e a cada polémica, os telemóveis entravam em campo: quem jogava, onde ver, como estava o resultado. O futebol manteve assim o seu estatuto de fenómeno transversal, tanto no estádio como no digital.

O apagão que deixou partes de Portugal e da Europa às escuras no final de abril provocou um aumento súbito de buscas, reflexo da dependência absoluta da energia elétrica para o trabalho, a mobilidade e a comunicação. Perante o inesperado, a procura de explicações tornou-se imediata. A eleição do Papa Leão XIV também puxou muito tráfego, com os portugueses a tentarem perceber quem é o novo líder da Igreja e quais as suas primeiras decisões. Já o Elevador da Glória transformou-se num sinal de alerta nacional após a tragédia que interrompeu um dos percursos mais icónicos de Lisboa.

A lista dedicada ao desporto-rei confirma que o interesse dos adeptos ultrapassa largamente o jogo jogado. O médio colombiano Richard Ríos foi o nome mais pesquisado, refletindo o impacto do seu desempenho. Rodrigo Mora, sensação em ascensão, também recebeu forte atenção digital. E jogadores como Viktor Gyökeres, Lukebakio ou Bruma inflamaram cliques sempre que surgiam rumores de transferências, renovação de contratos ou investidas de clubes estrangeiros. O Google tornou-se palco do lado invisível do futebol: o da expectativa, do rumor e do sonho em aberto.

Fora do desporto, as listas revelam que os portugueses se voltaram para o Google sempre que sentiram o mundo avançar mais depressa do que a informação disponível. A expressão "O que é turbossexual?", lançada para o centro do debate por Filipe La Cerda, tornou-se uma das mais procuradas do ano, sinal de como um termo pode saltar das redes para o dicionário digital nacional em poucas horas. A curiosidade por conceitos médicos, políticos ou religiosos - de "pneumonia por aspiração" a "mórmon" - mostra que o desconhecido continua a ser um motor poderoso de pesquisa.

O digital, por seu lado, está cada vez mais presente na relação dos portugueses com o Estado e com a tecnologia. Questões como "Como saber onde votar?", "Como funciona o IRS Jovem?" ou "Como renovar a carta de condução online?" evidenciam que há uma transição em curso para serviços públicos digitais que ainda exige aprendizagem. Outras dúvidas revelam a tentativa de dominar o básico tecnológico: como fazer print screen, como transformar uma fotografia em anime ou como aderir à "trend do boneco". A inteligência artificial também entrou definitivamente na rotina: muitos procuraram usar ferramentas gratuitas para estudar, criar imagens, editar fotografias ou fazer apresentações.

Em casa, continua viva a vontade de tornar o espaço mais acolhedor. As pesquisas sobre como cuidar de orquídeas, bonsais, lírios-da-paz ou zamioculcas confirmam que a jardinagem doméstica permanece tendência forte. O mesmo acontece com a culinária viral, que leva milhares a tentar recriar em casa o "morango do amor" ou o "chocolate do Dubai". A internet dita modas, mas também as torna práticas.

As mortes de Papa Francisco, Ozzy Osbourne ou Preta Gil mobilizaram também quem cresceu a acompanhá-los em diferentes fases da vida.

Tudo isto desenha um retrato claro: Portugal é um país que acompanha a atualidade global em tempo real, sem largar as suas referências afetivas e culturais. Um país que recorre ao Google para se orientar, participar e aprender - seja para saber onde votar, o que significa um termo estranho, como tratar de uma planta ou se afinal o seu avançado favorito vai sair do clube.

Cada pesquisa traz uma preocupação individual. Todas juntas revelam como vivemos. Conheça as listas de Portugal aqui.

Sara Oliveira