O primeiro-ministro defendeu, esta sexta-feira, que a greve geral "não faz sentido" do ponto de vista dos trabalhadores, considerando que tem motivações políticas e que a alteração da legislação laboral é apenas "um pretexto".
"Eu vou fazer greve porque estou a ganhar menos? Não, eu estou a ganhar mais. Eu vou fazer greve porque estou a pagar mais impostos sobre o meu trabalho? Não, eu estou a pagar menos. Eu vou fazer greve porque o meu emprego está em perigo? Não, na grandíssima maioria dos casos o meu emprego não está em perigo", perguntou e respondeu.
Montenegro insistiu que o anteprojeto em negociação com os parceiros sociais não retira direitos e que as alterações previstas na legislação laboral não serão motivo para aderir à paralisação.
"Eu devo esperar para saber se vem aí alguma coisa que efetivamente prejudique a minha vida. Eu trabalhador sindicalizado, vou ler o que está hoje na mesa das negociações e concluo: não, não vem aí nenhuma revolução, não vai haver nenhuma perda daquilo que são os meus direitos, vai haver a valorização da nossa economia e, portanto, vale a pena continuar a trabalhar e esta greve não faz sentido", considerou.
O chefe do Governo concluiu que "a greve é política", motivando os que "nunca, nunca chegarão a acordo", dirigindo-se diretamente à CGTP e os que, "sinceramente, caíram na armadilha da CGTP", numa referência implícita à UGT.
Em outro tema quente do debate, André Ventura, líder do Chega, falou de uma brutal "guerra civil" na saúde, lembrando que, no Hospital Amadora-Sintra, se registam 18 horas de espera. "O que interesse se o primeiro-ministro diz que há crescimento e não há médicos?". Visivelmente exaltado, lançou outra pergunta: "Ó homem, o que vai fazer para resolver o problema da saúde?". Consideração que o vice-presidente da Assembleia da República, Marcos Perestrello, considerou excessivo. "Concordará que foi um pouco além do razoável". Luís Montenegro reconheceu que é necessário resolver problemas de acesso ao SNS, mas garantiu que nem tudo está mal. "Houve um aumento de mais de 605 mil cirurgias. Os tempos de espera estão a diminuir nas urgências e no atendimento. O deputado André Ventura não consegue discutir saúde com seriedade", salientou.
Por seu lado, José Luís Carneiro, líder do Partido Socialista, confrontou Luís Montenegro sobre a credibilidade das contas da Segurança Social e acusou o Governo de incoerência fiscal, lembrando a preparação do aumento do ISP após ter prometido não subir impostos. Criticou ainda a recusa do primeiro-ministro em "leiloar propostas fiscais" durante o debate orçamental e a decisão conjunta de PS e Chega sobre portagens. Montenegro respondeu que a prioridade é garantir a sustentabilidade das finanças públicas antes de avançar com reduções fiscais, enquanto Carneiro pediu que o Governo reduza o IVA dos bens alimentares e reconheça que o saldo da Segurança Social é superior ao estimado pelo executivo.
Já Paulo Raimundo, secretário-geral do PC, acusou o Governo de querer impor despedimentos "à americana", defendendo que "os trabalhadores não são peças descartáveis". Sublinhou que "não há nenhum artigo em nenhuma lei" que impeça alguém com contrato permanente de mudar de emprego e insistiu que a reforma laboral proposta por Montenegro representa "mais precariedade, mais banco de horas, mais desregulação dos horários, mais pressão sobre os salários e despedimento sem justa causa".
Raimundo alertou também para a realidade laboral atual com "30% de contratos precários" e "dois milhões e 700 mil trabalhadores em horários desregulados", afirmando que muitos jovens "vivem no arame, com vida instável, sem acesso à habitação". E questionou: "É este o seu conceito de moderno? Quanto mais se conhece o conteúdo da reforma laboral, mais razões há para uma greve."
Luís Montenegro respondeu dizendo que o PCP "não conseguirá fazer uma discussão séria na base desse preconceito" e que "cada contexto é o seu contexto", defendendo uma legislação laboral que permita "uma economia mais produtiva e competitiva". E criticou Raimundo pelo tom do debate: "As suas palavras estão datadas e revelam alguém que não está a olhar para o futuro, para o progresso, para construir, mas apenas para manter tudo na mesma."