Cultura

"Butterfly chronicles": velhas questões para novos temas

Registo gráfico de João Mascarenhas é claramente de inspiração manga, dando provas do talento mutante do autor português de BD Foto: Direitos reservados

Estilo camaleónico de João Mascarenhas sobressai num álbum de banda desenhada sobre robótica e investigação genética.

Nascidas em 2013 num formato digital online, as "Butterfly chronicles" têm finalmente edição em papel pela Escorpião Azul.

O registo gráfico escolhido, em função do suporte, era claramente de inspiração manga, bem distinto de outras obras, anteriores e posteriores, com a assinatura de João Mascarenhas, dando uma prova do seu talento camaleónico.

A nível temático é também visível o seu carácter multifacetado, pois, para além das obras pedagógicas com o objetivo de levar a Ciência ao grande público, depois da abordagem autobiográfica das aventuras do "Menino triste", do tom histórico de "O perigoso pacifista", sobre Adriano Correia de Oliveira, ou do mergulho nas músicas de um lado e outro do Mediterrâneo como ponte e esperança em "A norte de sul nenhum", o autor português continua a reinventar-se.

Neste caso, optou por um relato com contornos de ficção-científica, passado num mundo alternativo que, graças aos avanços científicos no domínio da robótica, da inteligência artificial e da genética, está prestes a entrar numa nova era. Com esta base, Mascarenhas evoca questões antigas relativas à relação entre homens e máquinas, nomeadamente se o seu desenvolvimento será capaz de as aproximar do seu criador que, paradoxalmente, depende cada vez mais delas.

A narrativa, protagonizada por Hanako, uma jovem de personalidade forte e com um poder muito especial, decorre em meio académico, com jogos universitários disputados por robôs cujos movimentos dependem tanto da sua construção e programação, quanto da informação genética de espécies e indivíduos utilizada no seu desenvolvimento.

Mas, apesar de se reinventar em termos temáticos e gráficos, o autor transporta para este novo universo as preocupações que são uma constante na sua obra, dos difíceis, mas necessários, equilíbrios sociais à necessidade do ser humano desenvolver relações harmoniosas com a natureza, preservando-a.

Contudo, apesar dos tópicos abordados, não deixa de ser curioso que um dos sentimentos presentes, e que assumirá um papel determinante, seja o da vingança, num mundo que, afinal, apesar de tantos avanços científicos e tecnológicos, continua, como o nosso, refém das mais primárias reações humanas.

F. Cleto e Pina