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María Corina Machado não foi a única: os Nobel da Paz que faltaram à entrega de prémios

Filha de María Corina Machado vai receber Nobel da Paz em nome da mãe Foto: Odd Andersen/AFP

A líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, que vive escondida, não vai receber o Nobel da Paz presencialmente em Oslo, na Noruega, sendo representada pela filha mais velha, Ana Corina Sosa Machado. Mas esta não é a primeira vez que um vencedor do galardão falta à cerimónia.

2023
Narges Mohammadi

A ativista iraniana teve de celebrar o seu Prémio Nobel a partir de uma cela na prisão de Evin, em Teerão. Mohammadi, que fez campanha contra o uso obrigatório do hijab e a pena de morte no Irão, foi representada pelos seus gémeos de 17 anos, ambos exilados em França, que leram um discurso que conseguiu contrabandear para fora da prisão. Estava presa desde 2021, mas foi libertada em dezembro de 2024 por um período limitado para tratamento médico.

2022
Ales Bialiatski

O ativista bielorrusso dos direitos humanos estava preso. Foi representado pela esposa, Natalia Pinchuk. Bialiatski, fundador da Viasna - a principal organização de defesa dos direitos humanos na Bielorrússia - foi condenado em 2023 a 10 anos de prisão por "tráfico de moeda estrangeira".

2010
Liu Xiaobo

O dissidente chinês estava preso, a cumprir uma pena de 11 anos por "subversão". A sua cadeira permaneceu simbolicamente vazia, onde o prémio foi colocado. A mulher, Liu Xia, foi colocada em prisão domiciliária após o anúncio do prémio e os três irmãos foram impedidos de sair da China. Veterano dos protestos da Praça Tiananmen de 1989, Liu morreu em 2017, vítima de cancro do fígado, num hospital chinês, aos 61 anos, para onde foi transferido da prisão.

1991
Aung San Suu Kyi

A defensora da democracia de Myanmar ganhou o Prémio Nobel da Paz de 1991 enquanto estava em prisão domiciliária, como parte da repressão da liderança militar à oposição pró-democracia. Embora tivesse recebido autorização para viajar, recusou devido ao receio de não poder regressar ao país. Aung San Suu Kyi esteve representada na cerimónia pelos dois filhos e pelo marido, que aceitou o prémio em seu nome. Simbolicamente, uma cadeira vazia foi colocada no palco.

1983
Lech Walesa

O ativista sindical polaco que obrigou as autoridades a reconhecer o primeiro e único sindicato livre do bloco comunista, o Solidariedade (Solidarnosč), temia não ter permissão para regressar à Polónia caso se deslocasse a Oslo para a cerimónia. A mulher, Danuta, e o filho representaram-no.

1975
Andrei Sakharov

O dissidente e físico soviético foi homenageado pelo Comité Nobel pelo seu "compromisso pessoal destemido na defesa dos princípios fundamentais para a paz entre os homens". Sakharov foi impedido pelas autoridades soviéticas de viajar para a Noruega e fez-se representar pela mulher, Elena Bonner, também ela ativista dos direitos humanos.

1973
Henry Kissinger e Le Duc Tho

O prémio de 1973, um dos mais controversos da história do Prémio Nobel da Paz, foi atribuído na ausência dos dois laureados, que tinham chegado a um acordo de cessar-fogo no Vietname que logo fracassou. Le Duc Tho recusou o prémio, alegando que o cessar-fogo não estava a ser respeitado. Kissinger não foi a Oslo por temer manifestações.

1935
Carl von Ossietzky

O jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky estava preso num campo de concentração nazi quando ganhou o Prémio Nobel da Paz de 1935. Von Ossietzky tinha sido preso três anos antes, numa operação contra os opositores de Adolf Hitler após o incêndio do Reichstag. Um advogado alemão enganou a sua família para que embolsasse o dinheiro do prémio e foi condenado a dois anos de trabalhos forçados. Ossietzky morreu em cativeiro em 1938.

AFP