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Comité Nobel apela a Maduro para aceitar resultados eleitorais e deixar o poder

O presidente do Comité Norueguês do Nobel, Jorgen Watne Frydnes Foto: Ole Berg-Rusten/AFP

O Comité Norueguês do Nobel apelou, esta quarta-feira, ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, para que renuncie ao poder e aceite os resultados eleitorais, ao atribuir o Prémio Nobel da Paz à líder da oposição, María Corina Machado.

"Senhor Maduro, aceite os resultados das eleições e demita-se", disse o presidente do Comité, Jorgen Watne Frydnes, durante a cerimónia da entrega do prémio, onde Corina Machado se fez representar pela filha, Ana Corina Sosa.

O responsável acrescentou que Maduro deve "lançar as bases para uma transição pacífica para a democracia", sublinhando que essa é "a vontade do povo venezuelano".

O presidente do comité traçou um retrato severo da situação política e humanitária na Venezuela, classificando o país como um "Estado autoritário brutal".

Frydnes evocou vários casos recentes de repressão para ilustrar o funcionamento do regime, incluindo o desaparecimento forçado de adolescentes, a detenção e tortura de opositores políticos e a morte sob custódia de presos políticos, referindo-se a estes episódios como parte de um sistema "construído para erradicar qualquer tentativa de dizer a verdade".

Frydnes lembrou que as Nações Unidas classificaram estas práticas como crimes contra a humanidade e sublinhou que mais de um quarto da população venezuelana já fugiu do país, numa das maiores crises migratórias do mundo, enquanto os que permanecem vivem sob "silenciamento sistemático, perseguição e medo".

No plano internacional, o presidente do Comité Nobel alertou para o avanço global do autoritarismo, considerando que "o mundo está no caminho errado", com regimes autocráticos a aprenderem uns com os outros e a cooperarem em matéria de repressão, vigilância e propaganda.

Nesse contexto, Frydnes apontou explicitamente o apoio de países como Cuba, Rússia, Irão e China ao regime venezuelano.

Frydnes rejeitou a narrativa segundo a qual os movimentos democráticos são fonte de instabilidade, defendendo que a violência "não nasce da exigência de liberdade, mas da recusa dos que estão no poder em o abandonar".

"Paz baseada no medo, no silêncio e na tortura não é paz. É submissão apresentada como estabilidade", argumentou Frydnes.

No seu discurso, o presidente do comité destacou ainda a trajetória da oposição venezuelana e o papel de María Corina Machado como figura central de uma resistência cívica e não violenta, sublinhando que a dirigente sempre defendeu "boletins de voto em vez de balas" e uma transição democrática, rejeitando tanto a vingança como a violência.

Segundo Frydnes, a eleição presidencial de 2024, cuja legitimidade é contestada pela oposição, foi determinante para a atribuição do prémio, elogiando a mobilização inédita de centenas de milhares de cidadãos que documentaram o processo eleitoral, apesar de ameaças e repressão.

"O regime falsificou os resultados e manteve-se no poder pela força", afirmou, acrescentando que Machado vive desde então escondida, mas permanece no país como símbolo de resistência.

A Venezuela realizou em julho de 2024 eleições presidenciais, às quais a opositora foi impedida de concorrer.

O então presidente Nicolás Maduro afirmou ter sido reeleito para um terceiro mandato, apesar de a oposição reclamar a vitória do seu candidato, Edmundo Gonzaléz Urrutia, alegando ter como provas a maioria das atas eleitorais.

O presidente do Comité Nobel concluiu que democracia e paz são inseparáveis, sublinhando que "a democracia não é um luxo dispensável", mas "o instrumento mais eficaz para prevenir a violência e os conflitos".

"María Corina Machado e a oposição venezuelana acenderam uma chama que nenhuma tortura, nenhuma mentira e nenhum medo podem extinguir", disse Frydnes, acrescentando que, quando a história deste tempo for escrita, "não serão os nomes dos autocratas a prevalecer, mas os dos que ousaram resistir".

JN/Agências