Um autoproclamado príncipe alemão admitiu em tribunal, na quarta-feira, ter desempenhado um papel numa rede extremista acusada de tentar dar um golpe de Estado, mas apenas como "moderador" nas reuniões.
O príncipe Heinrich XIII Reuss é acusado de liderar um grupo de "Reichsbürger" ("Cidadãos do Reich"), um movimento que rejeita a legitimidade do Estado alemão moderno. O arguido, de 74 anos, é um dos nove que se apresentam perante um tribunal na cidade de Frankfurt, no oeste do país, acusados de planear invadir o parlamento alemão em Berlim e fazer deputados reféns.
Os procuradores acusam Reuss de ser um dos líderes e afirmam que era considerado pelos conspiradores como o possível sucessor para se tornar o "chefe de Estado provisório" após a queda do Governo alemão, alegações que nega.
Porém, na quarta-feira, admitiu ter "disponibilizado salas" à rede alegadamente responsável pelo plano. "Como anfitrião, participei em reuniões como moderador", disse Reuss, cujo julgamento começou em maio de 2024.
Negou ter conhecimento de planos para invadir o parlamento, afirmando que consideraria tal ação "idiota". "A violência nunca foi uma opção na minha vida", afirmou, alegando ter sido vítima de desinformação nas redes sociais sobre uma alegada iminente tomada de poder militar estrangeira na Alemanha, bem como sobre alegados abusos sistemáticos de crianças em instalações militares subterrâneas.
Reuss referiu que a "curiosidade" o levou a "concordar em ser contactado pela Aliança da Terra", um grupo imaginário que, segundo os conspiradores, era uma aliança de Estados que interviria para ajudar a derrubar o Governo alemão. Mas "mesmo antes da minha detenção, tornou-se claro para mim que a Aliança não existia e que eu e outros tínhamos sido enganados", continuou.
O movimento Reichsbürger foi durante muito tempo considerado um grupo de teóricos da conspiração, dissidentes políticos e excêntricos sociais, mas é agora visto como uma ameaça à segurança pelas autoridades alemãs. O serviço de segurança interna da Alemanha afirma que muitos Reichsbürger têm visões revisionistas históricas, antissemitas e racistas, e demonstram frequentemente uma "afinidade pelas armas".
A notícia da conspiração golpista chocou o país quando as autoridades revelaram os detalhes em 2022, durante operações de busca e apreensão realizadas em todo o território nacional. Mais de 20 pessoas acusadas de pertencer ao grupo estão a ser julgadas em três processos distintos, em Frankfurt, Estugarda e Munique. Entre os arguidos estão um ex-político, ex-oficiais do exército e um ex-parlamentar do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).