
Foto: Boris Roessler / POOL / AFP
Um autodenominado príncipe alemão negou, esta sexta-feira, ser o líder de uma conspiração golpista, contando entre lágrimas a sua vida “traumática” enquanto luta contra as acusações de que um grupo de extrema-direita tentou derrubar o Estado alemão.
O príncipe Heinrich XIII Reuss faz parte de um grupo de nove pessoas que está a ser julgado em Frankfurt, num dos maiores casos ouvidos pelos tribunais alemães em décadas. Os procuradores acusam o grupo, que inclui um ex-político e ex-oficiais do exército, de preparar um “empreendimento traiçoeiro” para invadir o Bundestag e fazer os parlamentares reféns.
Reuss, um pequeno aristocrata e empresário, é um dos supostos líderes e estava na fila para se tornar chefe de Estado provisório quando o governo fossse derrubado, segundo os procuradores.
“Não posso confirmar do que sou acusado em substância”, disse o homem de 72 anos ao Tribunal Regional Superior de Frankfurt, fazendo um longo relato da sua vida, que disse ter sido marcada por acontecimentos “traumáticos”. “É importante compreender-me como pessoa”, disse Reuss, que está sob custódia, acrescentando que se encontra num estado “instável”.
O homem descreveu uma infância conturbada, durante a qual foi abusado física e psicologicamente pelos seus professores na escola. Problemas de saúde decorrentes de um acidente de carro levaram-no a ser dispensado do exército. Além disso, os pais, católicos, rejeitaram o seu casamento com uma iraniana, agora sua ex-mulher. “Mesmo que ela fosse filha do imperador da China, eles não a teriam aceitado”, disse Reuss.
O advogado de defesa Roman von Alvensleben disse que pretendia provar que Reuss não era “um homem que queria provocar violência, que não queria matar pessoas, que não era um perigo para a República da Alemanha”.
O plano, denunciado pelas autoridades no final de 2022, é o exemplo mais notório do que é considerado uma ameaça crescente de violência marginal na Alemanha. A maior ameaça vem da extrema-direita, segundo as autoridades. Os supostos conspiradores ter-se-iam inspirado em teorias da conspiração, incluindo o movimento global QAnon, e elaborado “listas de inimigos”. Pertenciam ao Reichsbuerger alemão (Cidadãos do Reich), um movimento político de extremistas e entusiastas de armas que rejeitam a legitimidade da moderna república alemã.
O processo, no qual um total de 26 pessoas enfrentam julgamento, está a decorrer em três tribunais diferentes – Frankfurt, Estugarda e Munique.
