Cultura

Comunidade literária abalada pela morte do "mais europeu dos escritores italianos"

Antonio Tabucchi Diana Quintela / Global Imagens

A morte do escritor italiano Antonio Tabucchi, este domingo, em Lisboa, aos 68 anos, suscitou diversas reações de consternação e pesar de personalidades ligadas à literatura, mas também à política.

A diretora da Casa Fernando Pessoa e escritora Inês Pedrosa elogiou a obra do escritor, que era "tão italiano quanto português, a quem Portugal ficou a dever muito", recordando que Tabucchi foi "um divulgador da obra de Fernando Pessoa, de quem foi tradutor e sobre quem escreveu".

Confessando-se uma admiradora da obra de Tabucchi, a escritora destacou ainda que o escritor "sublinhava muito o caráter político da literatura, enquanto testemunho que se opunha à memória breve dos meios de comunicação social".

Também o presidente do Centro Cultural de Belém, Vasco Graça Moura, lamentou a morte do escritor, que considerou "um dos maiores ficcionistas contemporâneos", um "romancista muito importante" e um "especialista e grande divulgador de Fernando Pessoa em Itália".

O jornalista e diretor do Jornal de Letras José Carlos Vasconcelos referiu a ligação de Tabucchi a Portugal, "quer pela escolha afetiva inicial, quer depois pela sua própria obra".

O jornalista destacou, da vasta obra de Antonio Tabucchi, dois livros que têm como "pano de fundo" a realidade portuguesa: "Afirma Pereira", sobre um jornalista em época de ditadura, e "A cabeça perdida de Damasceno Monteiro", um romance baseado numa história verídica para o qual o próprio José Carlos Vasconcelos contribuiu.

Apesar da dupla nacionalidade italiana e portuguesa, José Carlos Vasconcelos destaca que a obra de Tabucchi teve o condão de chegar bem mais longe do que a estes dois países.

"Tabucchi foi um romancista de maior êxito não só da crítica mas também de vendas e não só em países da Europa como no Oriente. No Japão vendeu milhares", destacou.

A editora Zita Seabra, uma das antigas responsáveis da Quetzal, que divulgou no país a larga maioria da obra do romancista de origem italiana, considerou que "a literatura portuguesa perdeu um grande escritor".

"Conhecia a maneira de ser dos portugueses e isso refletia-se nos seus textos, romances e livros. Acho que é uma grande perda para Portugal e para Itália de um escritor que infelizmente morreu muito novo", referiu.

O secretário de Estado da Cultura, escritor e antigo editor, Francisco José Viegas, lamentou o desaparecimento de "uma das pessoas que mais refletiu sobre a Europa e aquilo que mais sentido dá à Europa, que é a sua cultura e a sua capacidade de dialogar com o mundo".

Para Francisco José Viegas, Portugal atravessa os livros de Tabucchi "como um relâmpago que iluminou muitas das nossas sombras e mistérios".

O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, prestou "sentida homenagem" a António Tabucchi, destacando o trabalho do escritor italiano, naturalizado português, na "divulgação das línguas e cultura europeias".

Os jornais italianos "Corriere della Sera" e "La Reppublica" escrevem, este domingo, nas edições online, a propósito da morte de Antonio Tabucchi, que morreu o "mais original" autor das últimas décadas, o "mais europeu dos escritores italianos".

A agência noticiosa italiana Ansa recorda que o escritor foi condecorado em 1989 pelo então Presidente da República Mário Soares com a Ordem do Infante D. Henrique, e, em França, foi nomeado Cavaleiro das artes e das Letras do governo francês.

A editora italiana Giangiacomo Feltrinelli, que publicou a obra de Tabucchi, lamentou a morte de "um amigo, um companheiro de estrada, um homem que viveu o seu tempo com paixão e raiva, um intelectual europeu, um grande escritor".

O jornal espanhol "El Pais" recuperou na edição online um artigo de opinião de Tabucchi de novembro passado intitulado "Desberlusconizar Italia".

António Tabucchi morreu hoje de manhã em Lisboa aos 68 anos, e será sepultado na próxima quinta-feira na capital portuguesa, disse à Lusa a sua mulher, Maria José de Lencastre.

Redação