
O escritor italiano Antonio Tabucchi, que morreu, este domingo, em Lisboa, era considerado um autor de dimensão universal, com uma voz para lá da literatura e que dizia muitas vezes que sonhava em português.
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Antonio Tabucchi, que nasceu em Vecchiano (Pisa) em 1943, descobriu a leitura na infância por culpa de uma fratura num joelho e por causa de um tio, que o ajudou a curar a maleita fornecendo-lhe muitos livros.
Apesar da naturalidade italiana, Tabucchi estava há várias décadas ligado a Portugal, por via de uma admiração profunda pela obra de Fernando Pessoa, que divulgou e traduziu para italiano.
A nacionalidade portuguesa foi-lhe concedida em 2004, uma mera formalidade para quem, como admitiu em várias entrevistas, sonhava frequentemente em português, condição involuntária de quem se considera cativo de um país.
O nome de Fernando Pessoa ficou-lhe marcado no percurso literário como nenhum outro autor, tinha como profissão "professor universitário" em Portugal e Itália, dirigiu o Instituto Italiano de Cultura, mas Antonio Tabucchi deixou sobretudo uma voz própria na literatura, comprometida com um grande sentido cívico.
Deixou publicadas obras como "Afirma Pereira" e "A cabeça perdida de Damasceno Monteiro", duas das que têm Portugal como cenário da ficção, "Nocturno Indiano", "Os últimos três dias de Fernando Pessoa" e "Requiem".
Bastas vezes premiado - Prémio Campiello, Prémio Médicis, Prémio da Associação Europeia de Jornalistas - Tabucchi foi ainda candidato ao Prémio Príncipe das Astúrias e estava sempre na lista de candidatos ao Nobel da Literatura.
Em duas entrevistas distintas ao jornal Público em 2000 e 2006, Antonio Tabucchi revelou que gostava muito de "perder tempo", a admirar Lisboa, a pensar, e de abraçar os amigos. Do seu círculo faziam parte Alexandre O'Neill, José Cardoso Pires, Fernando Lopes, que lhe filmou a adaptação de "O fio do horizonte".
Teve um olhar distante e próximo da realidade política portuguesa. Apoiou Mário Soares, foi candidato do Bloco de Esquerda nas eleições europeias, escreveu sobre a luta dos timorenses, e esteve sempre na dianteira na defesa da liberdade de expressão, do direito à palavra.
Nas páginas de jornais italianos, franceses ou espanhóis, Antonio Tabucchi foi ainda um pensador do mundo que o rodeava, contra a xenofobia e o preconceito, contra em particular voz crítica da governação de Silvio Berlusconi.
Em abril sairá "O tempo envelhece depressa", pela editora D. Quixote, um conjunto de contos nos quais se debruça sobre a passagem do tempo, o passado e o presente, afinal temas que marcaram o seu pensamento.
