Mundo

Cansados da austeridade, islandeses devolveram poder aos partidos do início da crise

Cansados de anos de austeridade, os islandeses deixaram de lado os social-democratas e trouxeram de volta ao poder o centro-direita, que estava no poder aquando do colapso financeiro, há cinco anos. Receita do FMI foi punida nas urnas.

Os eleitores puniram a coligação de esquerda, no poder desde 2009, trazendo de volta ao poder o centro-direita, os dois partidos que presidiram à liberalização do setor financeiro, cuja falência, em 2008, mergulhou a Islândia na recessão.

A economia islandesa saiu da recessão e do desemprego. Atualmente a taxa de desemprego é inferior a 5% e a taxa de crescimento em 2012 foi de 1,6%.

A queda do desemprego é um dos pontos fortes do balanço do governo cessante, mas os islandeses explicam a descida com a emigração dos jovens, a exclusão dos desempregados de longa duração das estatísticas e o aumento dos empregos a tempo parcial e do número de beneficiários de subsídios de deficiência.

Para Hannes Holmsteinn Gissurarson, professor de ciências políticas e uma das inspirações do Partido da Independência, o governo "fez o oposto do que um governo deve fazer durante uma crise financeira, aumentou os impostos, em particular sobre a criação de riqueza e de empregos, e suspendeu todos os investimentos".

Estas receitas foram aprovadas e até inspiradas pelo Fundo Monetário Internacional, que emprestou a Reiquejavique 1,6 mil milhões de euros entre 2008 e 2011.

Se o FMI já não está presente, o país continua a debater-se com as consequências da crise, sendo a mais discutida nesta campanha eleitoral o endividamento dos agregados familiares.

De acordo com estatísticas oficiais, um agregado em cada dez tem em atraso o pagamento da renda ou das prestações do empréstimo imobiliário. E mais de um terço dos islandeses (36%) são incapazes de pagar uma despesa inesperada de mil euros.

Cansados da austeridade, os eleitores deram uma vitória expressiva à oposição de centro-direita nas eleições legislativas de sábado, o que permite aos dois partidos iniciar negociações para formar um governo de coligação, revelam os resultados definitivos divulgados este domingo.

"Oferecemos um caminho diferente, o caminho do crescimento, protegendo a segurança social, com mais bem-estar e criando emprego", disse Bjarni Benediktsson, líder do Partido da Independência, ao reclamar a vitória nas eleições.

"O que não vamos facilitar é no corte dos impostos e em elevar o nível de vída das pessoas", disse Bjarni Benediktsson. "A situação de hoje em dia exige uma mudança", acrescentou.

"O Partido da Independência é chamado novamente ao seu dever", afirmou Bjarni Benediktsson, de 43 anos, dirigindo-se aos seus apoiantes, indicando estar disponível para negociar uma coligação governamental.

O Partido da Independência, de direita, ficou à frente com 26,7% dos votos, o que lhe confere 19 assentos no parlamento.

Bjarni Benediktsson deverá procurar o apoio do Partido Progressista, centrista e agrário, que obteve 24,4% dos votos e outros 19 lugares na assembleia nacional.

Atrás deles, os partidos do governo de esquerda cessante perdem metade dos seus deputados. A Aliança (sociais-democratas) cai para 12,9%, o que equivale a nove lugares, enquanto o seu aliado, Movimento esquerda-verde, obtém 10,9%, ou seja sete assentos.

Há ainda a registar a entrada no parlamento de dois novos partidos: o Futuro Radioso (pró-UE) obteve seis lugares com 8,2% dos votos e o Partido Pirata (libertário) é o primeiro do género a ganhar espaço num parlamento nacional, com 5,1% dos votos e três deputados.

Apesar de um ceticismo generalizado entre a população no que diz respeito à classe política, a participação alcançou os 83,3%.

A tarefa de escolher o primeiro líder partidário a tentar formar governo cabe ao presidente da República, que tradicionalmente escolhe o dirigente do partido mais votado.

A vitória do centro-direita enterra muito provavelmente a candidatura da Islândia à União Europeia, lançada em 2009, à qual os dois partidos se opõem.

Redação