As eleições municipais e autonómicas redesenham o mapa político espanhol. Poucos meses antes das eleições legislativas, marcadas para o outono, assiste-se à iminência de viragens históricas nas câmaras das duas principais cidades, que poderão ser comandadas por candidaturas cidadãs apoiadas pelo Podemos.
Se em Barcelona a ativista Ada Colau alcançou uma vitória histórica, em Madrid embora o PP tenha conseguido mais votos, a conjugação das forças de esquerda deverá conduzir a ex-juíza Manuela Carmena à presidência da Câmara, o que colocaria um ponto final a 25 anos de domínio do PP.
No resto do Estado, confirma-se definitivamente o fim da era das maiorias absolutas. O declive do bipartidarismo inaugura a entrada nas instituições das novas forças políticas Podemos e Cidadãos, dando origem aos parlamentos autonómicos mais plurais da democracia espanhola. A partir daqui, terão que ser as negociações e os pactos a determinar quem governa em cada município e comunidade.
Embora consiga ganhar na maioria das autonomias, o Partido Popular é o grande derrotado da noite, perdendo três milhões de votos em todo o território. A formação consegue ganhar nas comunidades de Madrid, Cantábria, Castela e Leão, Castela La-Mancha, Aragão, Valência, Múrcia e Baleares, mas perde todas as maiorias absolutas pelo que, para poder governar, terá que conseguir fazer pactos com a oposição. O mesmo acontece nos municípios onde conseguiu ser a força mais votada.
Também os apoios do PSOE descem consideravelmente, embora o partido liderado por Pedro Sánchez consiga recuperar a comunidade da Extremadura e manter a liderança nas Astúrias.
A nível nacional, o bipartidarismo confirma o forte desgaste: embora continuem a ser as forças mais votadas em todo o Estado, em conjunto, os dois partidos tradicionais descem dos 78% dos votos conquistados em 2011 para pouco mais de 50% este ano.
Quanto ao Podemos, consolida-se como terceira força política em todo o Estado, com cerca de 20%. A formação de Pablo Iglesias converte-se, assim, na chave para a governabilidade na maioria da comunidades autónomas. Finalmente, com uma média de 11%, o partido liberal Cidadãos, de Albert Rivera, não confirma as expectativas.
Viragem em Barcelona
Conhecida por dar a cara na luta contra os despejos, Ada Colau, a líder do movimento Barcelona em Comum (apoiado pelo Podemos) conquistou a capital catalã com 25%, à frente dos conservadores da CiU, que não ultrapassou os 22%.
Madrid em suspenso
Embora Esperanza Aguirre, do PP, ganhe por escassa margem à plataforma liderada por Manuela Carmena, a candidata apoiada pelo Podemos poderá ser a próxima presidente da Câmara se chegar a acordo com o PSOE.
Valência pode mudar
Depois de 24 anos à frente da Câmara de Valência, Rita Barberá do PP (25%) poderá ser afastada da presidência se o segundo mais votado, a coligação de esquerda Compromís (23%), conseguir apoios.