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Nasceu Florinda Rosa de Oliveira, mas morreu conhecida como irmã Maria Rita de Jesus. Tinha 80 anos. Décadas de devoção a Jesus e ao lado dos que mais necessitavam. "Uma mulher simples, mas que teve uma importância extraordinária na sociedade do seu tempo", sintetizou D. Armindo Lopes Coelho, bispo do Porto, que ontem presidiu à cerimónia de encerramento do processo a entregar na Congregação para a Causa dos Santos (em Roma, Itália), tendo em vista a canonização da freira franciscana.
"Oxalá, no mais breve tempo possível, a Santa Sé nos comunique a data da sua beatificação", sublinhou D. Armindo Lopes Coelho. O bispo falava perante uma sala apinhada. Na Casa Episcopal juntaram-se dezenas de pessoas. Algumas que tiveram a oportunidade de contactar com Maria Rita de Jesus. Como António Silva, que acompanhou a freira franciscana no seu trabalho no Hospital de Santa Maria, no Porto, onde Maria Rita de Jesus viria a falecer, em 1965. Morreu na cidade onde nasceu, corria o ano de 1885, conforme descreve Carlos Azevedo, postulador (responsável) da "causada serva de Deus irmã Rita de Jesus" . Nasceu na freguesia da Vitória, hoje Centro Histórico, que veio ao mundo no seio de família humilde.
Família humilde
Para ajudar a família teve de começar a trabalhar ainda nova. Encontrou ocupação na costura. Tinha 33 anos quando entrou na Congregação das Franciscanas de Calais, actualmente Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora.
O movimento anticlerical que se vivia no país obrigou-a a rumar a França, em 1920, para o noviciado. Tomou o hábito em Julho desse ano, mas foi na Argentina, onde esteve de 1924 e 1926 que mereceu a alcunha de "paloma" (pomba), dado o carinho com que tratava os doentes terminais no Hospital de Coronda.
Regressou ao Porto em 1926 e dedicou-se aos problemas sociais. "Trabalha com prostitutas e faz de mediadora entre casais desavindos", escreve Carlos Azevedo, recentemente nomeado bispo auxiliar de Lisboa, numa nota biográfica.
Com a saúde debilitada, passa a viver no Hospital de Santa Maria, a partir de 1936. É ali que aprofunda o "a difusão ao culto da infância de Jesus". É ali que é procurada por muitas pessoas, nomeadamente casais que passam tardes inteiras na sua companhia. "Não tinha grande cultura, apenas a instrução primária, mas as pessoas procuravam-na pedindo-lhe conselhos. Muitos casais iam todos os domingos ter com ela, para a ouvir", referiu D. Armindo Lopes Coelho. "Uma vida que considero exemplar", observou, também, o bispo.
O processo da irmã Rita seguirá, agora, para Roma. Mais de duas mil páginas, entre testemunhos, carta e apontamentos pessoais da freira franciscana. A Congregação da Causa dos Santos, que é presidida por um português, o cardeal D. José Martins, vai analisar se o processo deve continuar. Em caso favorável, os passos seguintes serão a beatificação e a canonização, com decisão do papa.
A Diocese do Porto tem mais cinco processos em análise na Congregação para a Causa dos Santos. O mais antigo, de 1912, refere-se à "Santinha da Arrifana". Os outros casos dizem respeito ao padre Américo, D. António Barroso (ex-bispo do Porto), Sílvia Cardoso e irmã Maria do Bom Pasto.
Um jazigo-capela branco no cemitério de Agramonte
A irmã Maria Rita de Jesus morreu no dia 29 de Maio de 1965. "O seu funeral, na igreja da Trindade, no dia 30, foi uma prova de estima e reconhecimento das suas virtudes", escreve Carlos Azevedo, na nota biográfica da irmã franciscana.
O reconhecimento transformou-se em culto. O jazigo-capela onde repousa o corpo de Maria Rita de Jesus é local de visita obrigatória para os devotos, que não duvidam da sua santidade.
Maria Rita de Jesus está sepultada no cemitério de Agramonte, na zona da Boavista, no Porto.
O jazigo-capela, cujo mármore branco se destaca do granito envolvente, está no sector reservado à Ordem da Trindade. Há velas no exterior do templo. Porque é de um temploque se trata. Uma verdadeira capela, embora de dimensões reduzidas. No interior, há pequenos vitrais e um altar, enfeitado com flores, onde respousa uma fotografia da irmã. Em frente ao altar, um genuflexório onde os devotos podem rezar.